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Por João Batista Oliveira
O que as evidências mostram sobre o que funciona de fato na área de Educação? O autor conta com a participação dos leitores para enriquecer esse debate.
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Bendito seja o joelho ralado

É preocupante quando uma rede de ensino como a paulista reduz o tempo de aulas de disciplinas fundamentais para "desenvolver competências socioemocionais".

Por João Batista Oliveira 13 Maio 2019, 12h34

Os neurocientistas e especialistas em desenvolvimento humano chamam de “funções de controle executivo”. Os economistas chamam de “habilidades sociais” – o mais econômico deles, J. Heckman, chama de “caráter”.  Já os educadores chamam de “habilidades socioemocionais”.

Quando o assunto entra para o folclore e ameaça o que ainda resta de essencial na escola, vale a pena ler e refletir sobre os ensinamentos que a psicóloga Wendy Mogel nos traz em seu livro “The Blessing of a Skinned Knee”. O subtítulo traz grande parte do recado: “Using Jewish Teaching to Raise Self-Reliant Children”. Em tradução generosa: Bendito seja o joelho ralado: usando a tradição judaica para educar crianças autoconfiantes.

Nomes novos para problemas educacionais universais e eternos: como educar nossos filhos. Como prepará-los para a vida. E já que a escola é parte importante da vida e da preparação para a vida, como prepará-los para serem autoconfiantes e bem-sucedidos na escola e, depois, na vida.

No limite, as escolas podem contribuir – ainda que modestamente – para alterar a trajetória de vida das pessoas. Isso sempre acontece em casos individuais, que são exceções. No todo – e nos vários países –, é modesta a contribuição da educação para alterar a probabilidade de uma proporção significativa de indivíduos de nível socioeconômico mais baixo passar para níveis mais altos. Ela funciona mesmo quando reforça o que se aprende em casa e na comunidade. A escola tradicional (sem qualquer demérito para a palavra “tradicional”, que significa “trazer para a frente, atualizar) é a que reforça os valores fundamentais de uma cultura, transmitindo os conhecimentos acumulados pelos antepassados de forma a desenvolver no aluno a capacidade de se tornar autônomo e, portanto, crítico e criador de novos conhecimentos. E isso requer diligência, trabalho, esforço, suor e lágrimas.

Wendy Mogel mostra, de maneira magistral, como a sabedoria da tradição judaica contém ensinamentos profundamente atuais sobre a educação. E isso provavelmente é verdade das demais tradições – ocidentais e não ocidentais. Como é certamente verdade no estudo dos clássicos.

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Ou seja: a educação integral, com base na formação do caráter, se aprende em casa e na comunidade. A educação formal – especialmente na Primeira Infância – pode reforçar e mais raramente compensar ou corrigir deficiências da formação da comunidade primária. E o faz com sucesso quando suas rotinas e práticas refletem esses valores. Ou seja: não existem atividades, técnicas, métodos ou “manuais de operação”. É a integridade dos educadores e o reflexo dessa integridade nas suas práticas usuais (o currículo vivido na escola) que podem contribuir para a formação do caráter e de sua consolidação.

Enquanto as habilidades sociais eram matéria de folclore e programas ou intervenções pontuais, não havia grande motivo para preocupação. São modas que vão e vêm. Enquanto serviam de alerta para os aspectos não cognitivos da educação, tudo bem. Mas é hora de se preocupar quando uma rede de ensino reduz o já magérrimo tempo de aulas das disciplinas fundamentais para abrir espaço para “desenvolver habilidades socioemocionais”.

A imagem do joelho ralado é forte. É preciso ralar – inclusive o joelho – para formar o caráter. É preciso lutar, inclusive para conquistar direitos. É preciso aprender a conviver e aprender com as derrotas e frustrações. Wendy Mogel diz que o direito da criança é ser protegido, ter comida e duas mudas de roupa. O resto, ela tem que conquistar. Bendito seja o joelho ralado.

 

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