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As redações do ENEM no Brasil e do BAC da França

As redações do ENEM e do BAC revelam grandes diferenças de entendimento sobre o papel da educação em geral e do ensino médio em particular.

Por João Batista Oliveira Atualizado em 6 nov 2017, 18h38 - Publicado em 6 nov 2017, 18h35
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  • Comparar os temas das redações do ENEM e do seu homólogo na França, o BAC, nos dá uma boa dimensão do fosso conceitual que separa a ideia de educação e da função da escola no Brasil e em países onde a educação anda melhor.

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    Nos últimos anos, o ENEM teve como temas, entre outros, “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”; “Caminhos para combater o racismo no Brasil”; A persistência da violência contra a mulher no Brasil”; “Publicidade infantil em questão no Brasil”; “O indivíduo frente à ética nacional”; “Como preservar a floresta Amazônica”; “O desafio de se conviver com as diferenças”; “O trabalho infantil na realidade brasileira”;  “Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação”; “A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?”.

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    Já na França, o BAC teve como temas típicos nos últimos dez anos os personagens do romance do século 17 até nossos dias; as reescrituras do século XVII aos nossos dias; a questão do homem nos gêneros argumentativos do século 16 aos nossos dias; escritura poética e busca de sentido; rumo a um espaço cultural europeu; a argumentação: convencer, persuadir e deliberar; o romance e seus personagens: visões do homem e do mundo. Também há diferentes propostas de redação de acordo com o tipo de ensino médio na França – o geral, o tecnológico e o profissional.

    Os temas das redações dos principais vestibulares dos dois países revelam pelo menos três grandes diferenças de entendimento sobre o papel da educação em geral e do ensino médio em particular.

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    Primeiro, os temas propostos para os alunos franceses sugerem que lá se entende ser mais importante que o aluno aprenda os assuntos a fundo do que ter opinião pessoal sobre eles; ou, melhor, o entendimento subjacente é o de que, para formar uma opinião, é preciso antes acumular conhecimentos e saber entendê-los criticamente, à luz dos conhecimentos adquiridos e transmitidos pelos nossos antecessores – a isso se chama de “cultura”. Os temas de redação no Brasil revelam o que todos sabemos – a educação tornou-se parte de um “projeto de nação”, uma grande escola de engenharia social. Em vez de ajudar o aluno a conhecer a si mesmo e suas raízes culturais, tentamos prepará-lo para seguir o “politicamente correto”, para rezar pela mesma cartilha.

    Outra diferença crítica entre esses dois países está no entendimento da importância da cultura na formação intelectual. Para entender a cultura de hoje, é preciso ter como referência a cultura do passado. Para preparar para o BAC, é preciso estudar história, literatura, revisitar conceitos à luz do passado cultural. Conheça-te a ti mesmo e às tuas raízes, conheça tuas referências, conheça o que há de comum – antes de querer reformar o mundo com suas ideias pessoais.

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    No Brasil, a escola estimula aquilo que não precisa ser estimulado e que é próprio da juventude – querer reformar o mundo –, em vez de ajudar os jovens a entender como se forma uma consciência crítica. Apenas para não deixar o leitor em dúvida: se compararmos o desempenho dos alunos brasileiros no nível 4 da Prova de Linguagem do Pisa, vamos verificar a gigantesca diferença entre quantos cá e lá são capazes de pensar criticamente. O fosso é gigantesco.

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    Finalmente, há uma diferença importante nos temas e nas expectativas dos candidatos das diferentes opções do ensino médio: há um nível de conhecimento básico que todos precisam demonstrar – mas a partir de temas e enfoques mais voltados para a área de interesse do aluno. Na França, metade dos alunos fazem a opção geral – mais de cunho humanístico – e a outra metade se divide entre as carreiras tecnológicas e profissionalizantes.

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    Será que algum dia vamos nos dispor a refletir sobre essas questões?

     

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