“Aldo”: a mesma miséria, mas nem tanta violência
O que é ficção na série da Globo sobre o astro do MMA, adaptada do longa de Afonso Poyart
Há algumas semanas, o editor Marcelo Marthe assinou reportagem nas páginas de VEJA sobre o que é real e ficção na ótima série The Crown, sobre a Rainha Elizabeth II. E escreveu: “O crescendo dramático é tão arrepiante que o espectador é levado a pensar: será que é tudo só história, no sentido de lorota mesmo? Ou seria História de verdade, com H maiúsculo?”
A dúvida inspirou o mote e o nome deste blog. Se você se interessa por séries ou filmes biográficos e históricos e gostaria de entender melhor os fatos nos quais se baseiam, sugerimos salvar este blog na sua barra de links favoritos, leitor!
Na estreia, esmiuçamos as cenas de Aldo – Mais Forte Que o Mundo, minissérie exibida pela Globo na última semana, derivada do filme de Afonso Poyart, diretor também do elogiado 2 Coelhos.
A produção, que esquentou a audiência da Globo, conta a trajetória do manauara José Aldo (José Loreto), um dos maiores lutadores de MMA do Brasil. Poyart, que também assina o roteiro, conta que algumas adaptações foram necessárias. O atleta viveu infância e adolescência pobres em Manaus, ao lado do pai alcoólatra que agredia sua mãe, personagens de Jackson Antunes e Claudia Ohana. Na juventude, muda-se para o Rio de Janeiro, onde tenta a vida como lutador e conhece Viviane, sua mulher.
“José Aldo tem uma grande história, mas em alguns momentos é preciso ‘ficcionar’ um pouco para pegar a plateia. Alguns elementos são cinematográficos, mas a essência da história está lá”, diz Poyart.
1 – PAULADA NA CARA
Uma das cenas mais famosas do filme e da série é o golpe com uma ripa que José Aldo desfere em Fernandinho, personagem de Rômulo Arantes Neto (na verdade, a pancada foi no pai dele, como fica evidente depois). A agressão não aconteceu. E o personagem é um antagonista inventado para manter tensão dramática.
A ideia das pauladas, porém, veio das conversas com o próprio José Aldo. “Ele me contou que os moleques se batiam com madeiras, meio tirando onda. Uma brincadeira violenta, mas acho que não para machucar naquele jeito”.
2 – A RELAÇÃO COM O PAI
O pai do lutador sempre representou um paradoxo para o atleta. Por um lado, era mesmo alcoólatra e violento, como mostra a série. Por outro, era seu grande incentivador no esporte, inclusive na ideia de tentar a sorte no Rio de Janeiro. A cena em que entrega um bolo de dinheiro para que viajasse, porém, não aconteceu exatamente daquela forma. “Ele ajudou a juntar dinheiro, mas não foi em uma única conversa assim, de uma vez.”
3 – A BRIGA NO BAR
Para se manter no Rio, José Aldo arranja emprego na cozinha de uma lanchonete. Até aí, tudo verdade. Mas não existiu a cena em que o amazonense dá uma surra em três grandalhões depois que mexeram com Vivi (Cleo Pires), a garota por quem estava interessado. Na série, esse momento é um ponto de virada, no qual o treinador, que esperava seu lanche no estabelecimento durante a quebradeira, vê o potencial para o octógono. “José Aldo conquistou seu espaço e foi ganhando a confiança do treinador aos poucos, de maneira mais orgânica. No filme, acontecer dessa forma rápida traz mais impacto.”
4 – VIVIANE
A personagem de Cleo Pires não só existiu, como segue a mulher de José Aldo. De família de classe média, ela conheceu o lutador na academia. A cena em que ela briga com ele na favela, dizendo que não quer lavar cuecas, foi relatada pelo casal.
5 – LUIZA
Já a personagem de Paloma Bernardi, romance dos tempos de Manaus com quem José Aldo trai Vivi, não existiu. Mas funciona no filme como interpretação de carne e osso de algo presente em sua vida: a dificuldade de se desvencilhar do apego a Manaus.
6 – ORIGEM MISERÁVEL
A casa pobre (quase insalubre) de José Aldo na favela é um retrato fiel da original. “Estive lá. Fica mesmo em uma comunidade e é até um pouco menor do que foi mostrada”.
Curiosidade: as cenas não foram rodadas em Manaus. O diretor usou Santos para cenas ribeirinhas. E também a favela de Heliópolis, em São Paulo.
7 – LUTA DE ESTREIA
A primeira luta do atleta aconteceu mesmo de forma improvável, como mostra a série: substituindo um outro atleta ausente. Diferente do que é narrado, porém, esse lutador não se machucou jogando futebol. “Ele simplesmente sumiu.” O embate de estreia, porém, termina mesmo em vitória.
8 – PRIMEIRA DERROTA
José Aldo foi derrotado em uma luta em início de carreira, na qual entrou mais por dinheiro do que por convicção. Mas, ao contrário do que é mostrado, seu técnico não se opôs ao embate.
9 – A CICATRIZ
Essa ficou para o último episódio, em flashback: a origem da cicatriz no rosto do lutador foi realmente uma queimadura com grelha.
*
De que outras séries e filmes você gostaria de saber o que é fato e o que é ficção? Escreva nos comentários!
A reação de Lula ao ser aconselhado a decretar intervenção na segurança do Rio
A provocação de Lázaro Ramos após megaoperação no Rio
Paulo Betti causa divergências ao falar sobre megaoperação no Rio
Quem são os chefões do Comando Vermelho mortos na megaoperação do Rio
Combate ao tráfico: Cláudio Castro se sai melhor que Lula, aponta pesquisa







