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Esconderijos

Flagrante da cueca revela mazelas para além do dinheiro oculto

Por Dora Kramer Atualizado em 23 out 2020, 10h03 - Publicado em 23 out 2020, 06h00
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  • O episódio tragicômico do senador ora afastado oculta — e ao mesmo tempo revela — muito mais que dinheiro em camadas subjacentes às bermudas. De imediato nos relembra casos que por isso já viraram hábito, de esconder cédulas de origem imprecisa em locais inusitados: cuecas, calcinhas, meias, apartamentos usados como cofres e até contabilidade de lojas de chocolate.

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    Em seguida entraram em cena outras mazelas incrustadas nas piores práticas da política, feito mariscos nas pedras. Deve haver mais, mas cito três: o gosto parlamentar por acertos meia bomba à meia-luz, o menosprezo ao discernimento alheio e o método de ocupação da suplência dos senadores.

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    Escolho me ater ao último item, até por ter ficado em segundo plano nas análises que acertadamente deram destaque às espertezas do presidente do Senado. Empenhado em não desagradar a ninguém a fim de obter uma reeleição ilegal, Davi Alcolumbre costurou o acerto que permitiu ao colega Chico Rodrigues se licenciar por 121 dias.

    Assim, livrou a Casa de tomar uma decisão, no aguardo de que daqui a quatro meses o caso tenha sido relegado à categoria de “notícia velha”, e ainda postergou a volta do Conselho de Ética, onde há, entre mais de vinte processos em aberto, um envolvendo o senador Flávio Bolsonaro.

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    Suplente biônico distorce sistema representativo, desrespeita o eleitor e perpetua chaga da política

    Licenças de 120 dias dão ao suplente a prerrogativa de assumir a vaga do titular. São dois os substitutos, sendo o primeiro da fila, Pedro Rodrigues, filho de Francisco. O segundo, Onésimo de Souza Cruz Netto. Ambos sem-votos, pois beneficiados pela Constituição, que desobriga suplentes de serem submetidos a escrutínio (do partido ou do eleitor) que não a escolha pessoal do cabeça de chapa.

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    Já houve ocasião em que cerca de 25% (23% para ser exata) das cadeiras do Senado eram ocupadas por pessoas sem voto, uma evidente distorção no sistema representativo. Além disso, o método se presta a exorbitâncias, tais como a ocupação das suplências por parentes, cônjuges, amigos milionários financiadores de campanhas, funcionários de gabinetes. Já houve de (quase) tudo, inclusive a posse do pedreiro que prestara serviços ao senador que veio a falecer.

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    São comuns os arranjos entre titulares e suplentes para uma alternância no exercício do mandato. Desse modo não é difícil chegar ao Senado, um paraíso nas palavras de Darcy Ribeiro, “pois não é preciso morrer”. O filho de Francisco, por exemplo, herdará salário de 33 700 reais, cota extra de 40 700 reais, imóvel funcional, auxílio-mudança e serviço médico de primeira.

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    Nem sempre foi assim. Antes da atual Constituição, em 1983, Fernando Henrique Cardoso assumiu a vaga de Franco Montoro, então eleito governador de São Paulo. FH havia concorrido com Montoro na sublegenda do MDB em 1978 e obtido 1 272 416 votos, o segundo mais votado.

    Poderia voltar a ser assim, não faltaram tentativas. Frustradas, porque a maioria das excelências prefere que continue sendo assim.

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    Publicado em VEJA de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710

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