25 de novembro: Sou uma brasileira em extinção. Continuo em rígida quarentena. Vejo com incredulidade notícias de pessoas frequentando festas, participando de partidas de futebol, pegando voos sem destino definido simplesmente para simular uma sensação de normalidade. Desde o dia 21 de março, quando interrompi o trabalho presencial, não frequento restaurantes, bares, happy hours, sambas na zona portuária do Rio, praias no fim de semana. Nada. É um ano perdido em que o objetivo maior de muita gente – meu, inclusive – é simplesmente ficar longe do vírus.
Ser voluntária em um projeto de vacina experimental é uma tentativa de sobreviver fazendo algo de útil, contribuindo para a descoberta de mais um imunizante – mesmo que os frequentadores de todas essas festas achem que o pior da pandemia já passou. A sensação de responsabilidade que me move é a mesma que tocou a professora de idiomas Maria Amélia Quiozini, moradora de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Aos 38 anos e morando com a mãe idosa, Maria Amélia também é voluntária do estudo clínico da Janssen-Cilag, o braço farmacêutico do grupo Johnson & Johnson, em busca de mais um fármaco contra a Covid 19.
Assim como eu, ela continua em isolamento e ministra a maior parte de seu trabalho, aulas de Inglês, Italiano e Português para estrangeiros, de forma remota. Não quer abrir brechas que possam levar à infecção de familiares. “Tenho muito medo de transmitir algo para algum aluno, sinto uma imensa responsabilidade. O medo maior ainda reside na transmissão para outras pessoas, ainda que involuntariamente, e acho que isso me motivou a me voluntariar para o teste da vacina”, disse ela ao blog.
Assim como eu, ela tomou a vacina experimental e apresentou efeitos adversos. No caso dela, danos colaterais como incômodo na garganta, espirros aleatórios, cansaço e uma leve dificuldade para respirar. Este último foi o sinal de alerta para que a equipe médica que trabalha no estudo clínico entrasse em contato e a orientasse a fazer o teste RT-PCR, aquele em que hastes com algodão são colocadas nas narinas para colher material e avaliar se o paciente está ou não contaminado com o novo coronavírus.
Maria Amélia ainda não recebeu o resultado do seu primeiro exame PCR. Ela fez em casa mesmo com um dos kits que ganhou como voluntária, guardou a amostra na geladeira até ser recolhida por uma equipe médica e agora tem um arsenal de outros testes para monitorar qualquer situação suspeita. Além do termômetro digital e de um oxímetro em que mede diariamente suas condições de saúde, ela recebeu mais quatro exames PCR para fazer nas narinas e quatro outros para coleta de saliva. Vai intercalar ambos por sete dias consecutivos para saber se está tudo bem.
Os testes PCR são considerados o padrão ouro para se aferir se uma pessoa está ou não com Covid. Mas mesmo sendo a melhor das opções que temos para detectar as infecções na pandemia o exame pode apresentar resultados falso-negativos, mascarando a real condição do paciente. Se o Sars-CoV-2 for pesquisado imediatamente após o contato suspeito, o indivíduo pode estar infectado, mas o vírus não é necessariamente detectável. O ideal é que o PCR seja realizado na primeira semana após a suposta contaminação porque é o período em que há uma grande quantidade de vírus no organismo. Um falso-negativo também pode ocorrer se o paciente colher a amostra mais de três semanas depois de ter contraído a doença.