Por que o dia 26 de fevereiro é importante para a vacina da Janssen
Corpo técnico da FDA vai decidir se recomenda ou não que a agência reguladora autorize o uso emergencial do imunizante de dose única
![EIDEN, NETHERLANDS - 2020/08/14: Janssen sign seen outside its building in Leiden.The European Commission has made agreements with American pharmaceutical company Johnson & Johnson about the purchase of a vaccine if it appears to be safe and effective against Covid-19. This vaccine is being developed under the leadership of the subsidiary Janssen Vaccines in Leiden. The envisaged contract will allow EU member states to purchase the vaccine and initially provides for 200 million doses, with an option for an additional 200 million. (Photo by Robin Utrecht/SOPA Images/LightRocket via Getty Images)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/09/GettyImages-1228055892.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
5 de fevereiro, 13h14: Desde que me tornei voluntária no desenvolvimento da vacina experimental da Janssen-Cilag, já respondi a 26 questionários que, entre outros pontos, buscavam saber se eu havia tido efeitos colaterais depois de ter tomado o imunizante e se percebera algum sintoma que indicasse que pudesse estar infectada com a Covid-19. Daquela terça-feira, 17 de novembro, quando recebi uma injeção intramuscular no braço esquerdo, em diante guardo na cabeça uma espécie de calendário paralelo com dias e meses considerados cruciais para o estudo clínico que deve liberar mais uma vacina anti-Covid nesta pandemia. Com a submissão ontem do pedido de uso emergencial da vacina da Johnson & Johnson ao FDA, a agência regulatória norte-americana de alimentos e medicamentos, a próxima data fulcral para o futuro da vacina já está definida: 26 de fevereiro.
Neste dia um grupo de cientistas da FDA vai se reunir para avaliar se, a partir da documentação apresentada pela Janssen, é recomendável ou não que a agência reguladora autorize a utilização do produto em grupos prioritários de pacientes nos Estados Unidos. Até lá, todas as horas das vidas desses funcionários estarão à disposição de ler e reler os resultados apresentados pela farmacêutica, cruzar dados de eficácia do fármaco, analisar as cifras brutas para checar a veracidade das informações apresentadas e entender a potência da vacina de dose única para diferentes faixas etárias. Em situações de normalidade pré-pandêmica, a FDA gastava cerca de um ano inteiro para cruzar, checar e rechecar tudo. Durante o caos instalado pelo novo coronavírus, a agência reduziu drasticamente o tempo de análise de toda a papelada. Foram necessários, por exemplo, 21 dias para que todos os dados da vacina da Pfizer fossem escrutinados pelos cientistas.
A FDA em si não precisa concordar com as conclusões a que chegará o corpo técnico da agência, mas é praxe que o faça. Assim, se o grupo que se reunirá no dia 26 de fevereiro concluir que a vacina da Janssen deve ser aprovada, é altamente provável que o FDA ratifique, ainda este mês, a recomendação. Com isso, ela se tornaria a terceira vacina avalizada para uso nos americanos e abriria caminho para que nós, brasileiros, tenhamos a chance de usufruir do fármaco nos próximos meses.
Isso porque a Janssen pretende, após receber sinal positivo dos americanos, dar entrada também em pedidos de uso emergencial em diversos outros países, inclusive no Brasil, onde 7.560 voluntários como eu se dispuseram a testar a vacina de dose única idealizada para armazenamento de temperaturas de geladeira comum. Seria um senhor empurrão na ainda lenta imunização de pessoas ao redor do mundo.
Ao anunciar a eficácia geral da vacina de 66% e de 85% contra internações hospitalares e mortes, a empresa renovou o compromisso de produzir um bilhão de doses em 2021. O governo brasileiro não tem um acordo de compra para a vacina na Janssen, mas espera fechar a entrega do primeiro carregamento – de 3 milhões de ampolas – em maio. Se as demais tratativas com a gigante farmacêutica se viabilizarem, seriam outras 35 milhões de doses até o fim do ano.