‘Comporte-se como se não houvesse vacina à vista’
Sem o uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social, infelizmente 2021 tem grandes chances de ser devastador
![Médica nos Estados Unidos recebe doses da vacina da Moderna](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/12/000_8XK7JW.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
21 de dezembro, 17h13: Desde que me tornei voluntária nas pesquisas científicas que buscam vacinas anti-Covid, os pesquisadores tiveram cuidado de não prometer sucesso rápido e absoluto. Luis Augusto Russo, chefe do estudo do qual faço parte, havia estimado, no início de setembro, que a vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, tentaria chegar a uma eficácia de 75% (25 pontos percentuais acima do mínimo exigido pela FDA, a agência americana responsável pela vigilância sanitária). Hoje, cientistas do mesmo projeto estimam que o imunizante da Janssen deve ter eficácia na casa dos 90%. O número oficial é esperado para o fim de janeiro.
A ciência está correndo contra o tempo e derrubando padrões ao desenvolver e aprovar vacinas para uso emergencial em tempo recorde. Antes da pandemia, a vacina contra a caxumba havia sido a mais rápida a ser produzida no mundo – quatro anos entre a amostragem viral e a aprovação por órgãos sanitários. Isso na década de 1960. Agora tudo mudou. As empresas tiveram financiamento inédito que as permitiu realizar testes diferentes ao mesmo tempo. A Janssen, por exemplo, trabalha para lançar no mercado uma vacina de dose única contra o novo coronavírus, mas estuda também um imunizante feito com duas doses. Além disso, as plataformas de desenvolvimento mais rápido estrearam nesta pandemia, como a fabricação de antígenos feitos com RNA mensageiro (casos da Pfizer e da Moderna).
A sociedade também começou a entender melhor a importância de voluntários que se dispõem a testar os antígenos antes do restante da população. Foi o que me explicou uma das médicas que integra a pesquisa da Janssen. Quando voltei, no dia 15 de dezembro, à clínica para medir se desenvolvi anticorpos, ela queria saber o que tenho achado da experiência de ser voluntária diante de tantas pessoas morrendo a cada dia e de segundas e terceiras ondas de contágio serem bem prováveis quando todos nós já estamos esgotados de isolamento social e emocionalmente instáveis.
Relatei a ela que sou uma das poucas pessoas que conheço que ainda cumpre uma rígida quarentena sem agenda social, viagens, restaurantes, aulas ou confraternizações. O que ela me respondeu naquele dia tornou-se meu mantra nesses tempos tão difíceis: “comporte-se como se não houvesse vacina à vista”. Porque sem o uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social, infelizmente 2021 tem grandes chances de ser devastador.