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Diário da Vacina

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A repórter Laryssa Borges, de VEJA, relata sua participação em uma das mais importantes experiências científicas da atualidade: a busca da vacina contra o coronavírus. Laryssa é voluntária inscrita no programa de testagem do imunizante produzido pelo laboratório Janssen-Cilag, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
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Brasil terá, na melhor hipótese, só 3 milhões de doses da Janssen em maio

Imunizante divulgou hoje a eficácia de 66% de sua vacina anti-Covid e índice global de 85% na prevenção de casos graves da doença

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jan 2021, 13h37 - Publicado em 29 jan 2021, 11h26

29 de janeiro, 10h46: A Johnson & Johnson anunciou na manhã desta sexta-feira que sua vacina de dose única contra a Covid-19 tem eficácia de 66% contra casos moderados e graves da doença. Nos Estados Unidos, um dos países que testaram o imunizante experimental na fase 3, a eficácia chegou a 72%. De acordo com a companhia, o índice global chega a 85% na prevenção de casos graves da doença e demonstrou “completa proteção” contra hospitalizações e morte a partir do 28º dia. Ao tornar pública a eficácia de seu biofármaco, também testado no Brasil em 7.560 voluntários, a J&J afirmou que a proteção conferida pela vacina inclui a variante observada na África do Sul. Como voluntária da pesquisa clínica que buscou desenvolver esta vacina, ainda não consegui digerir os números.

Vamos às boas notícias: a J&J afirmou que o cronograma de produção de suas vacinas permitirá que ela cumpra o compromisso de fornecimento de 1 bilhão de doses em 2021. A companhia pretende pedir autorização para uso emergencial do imunizante à FDA, a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, no início de fevereiro e diz estar apta a distribuir os lotes de fármacos assim que obtiver o sinal verde da agência reguladora. A má notícia: o Brasil, que hoje não consegue nem imunizar o primeiro grupo prioritário no Plano Nacional de Imunizações (PNI), não fez um grande acordo antecipado de compra com a Janssen e, na melhor das hipóteses, deve ter apenas 3 milhões de doses em meados de maio, segundo projeção do ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Era a primeira vacina de dose única e com possibilidade de armazenamento em temperatura de geladeira, mas ainda assim, ao contrário dos Estados Unidos e da União Européia, não fizemos protocolos de intenção de compra em larga escala. Até o fim do ano, se tratativas comerciais se viabilizarem, teríamos outras 35 milhões de ampolas enviadas pela Janssen ao Brasil.

26 de janeiro, 11h38: Sentada na antessala da clínica que me recrutou como voluntária da vacina experimental da Janssen, aguardo a chamada para uma nova bateria de exames sorológicos. Duas ampolas de sangue, de 5 mL cada, compõem esta fase de testes do imunizante experimental. A ideia é saber se 71 dias após a aplicação da vacina os anticorpos se mantêm sustentáveis e efetivos na proteção do corpo contra o novo coronavírus. Apesar de todos os biofármacos utilizados emergencialmente na pandemia serem de dose dupla, os ensaios clínicos da Janssen nas fases 1 e 2 com uma dose única haviam conseguido desencadear uma resposta de anticorpos em mais de 90% dos participantes, independentemente da faixa etária. E no dia 71, o resultado foi ainda melhor: os anticorpos aumentaram e se estabilizaram, o que sugere durabilidade da resposta imune induzida pela vacina.

Antes de ser chamada para colher sangue, respondo a mais uma leva de questionamentos sobre meu estilo de vida. Com quantas pessoas interage por dia? Vive com quantas pessoas? Com idosos? Crianças? É um alojamento? Um trailer? Um abrigo? Uma tribo indígena? Encontrou-se com quantas pessoas nos últimos 15 dias? Em ambiente aberto ou fechado? Com máscara ou sem máscara? Trabalha com quantas pessoas? O ambiente é limpo com que frequência? Há equipamentos de proteção e distanciamento?

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Perguntas como essas, apresentadas a todos os voluntários da Janssen, buscavam reconfirmar que os pacientes selecionados compõem o universo mais variado possível. Idealmente, os pesquisadores gostariam que houvesse quem vivesse em trailers, repúblicas estudantis, aldeias, quem tivesse comorbidades, que se apresentassem pessoas de um grande número de etnias, gordos, magros, transplantados, soropositivos. Porque a vacina, confirmada hoje como segura e eficaz, será futuramente aplicada em uma diversidade de históricos clínicos e de estilo de vida. E os testes precisam tentar antever como o imunizante se comportará em cada vacinado na vida real.

Diante de tantas perguntas na fase de testes da vacina experimental, lembrei que meu estilo de vida – draconiana no cumprimento do isolamento social, agressiva com todo ser humano sem máscara e confortavelmente instalada há dez meses em home office – deve me fazer uma voluntária menos interessante para a pesquisa por supostamente estar menos exposta ao vírus. O pesquisador principal do estudo clínico Luis Augusto Russo me diz que o raciocínio não é este. E lembra que é para ter todo tipo de voluntário – os ultraortodoxos do isolamento, como eu, e os que quase levam uma vida normal, como os que aparecem em reportagens de TV – que são feitas perguntas sobre o modo de vida de cada paciente. “Por isso perguntamos a profissão de cada um, o histórico de saúde e buscamos sempre multietnicidade de pacientes”, afirmou para, na sequência, me lembrar que, ainda que eu tenha recebido a vacina verdadeira na primeira consulta, em novembro, nem eu nem ninguém deve abandonar o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização constante das mãos.

De fato. Ao anunciar nesta sexta os resultados de eficácia de sua fase 3 com voluntários de oito países e três continentes, tivemos o seguinte perfil de pessoas que, assim como eu, se dispuseram a testar o imunizante: 19.302 participantes nos Estados Unidos, 17.905 na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru e 6.576 pacientes na África do Sul. De todos, 45% eram mulheres, 55% homens. No perfil global dos voluntários, 59% eram brancos, 45% hispânicos ou latinos, 19% negros, 9% indígenas e 3% asiáticos. Também entre as pessoas que fizeram testes para a Janssen, 41% tinham comorbidades como obesidade, diabetes, hipertensão ou HIV.

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