A receita para envelhecer bem, segundo um neurocientista
No livro 'O Bom da Idade', David Levitin desmistifica ideias e preconceitos sobre o avançar dos anos e reúne conselhos para um cérebro longevo. Leia trecho

O poeta Dylan Thomas escreveu que não devíamos ingressar de forma mansa na noite suave, que a velhice devia arder e se inflamar ao final do dia. Mais jovem, quando li esse poema, essas palavras me soaram vazias. Para mim, a velhice eram apenas debilidade: o declínio do corpo, da mente e mesmo do espírito.
Eu via meu avô sofrer dores e achaques. Antes ágil e orgulhosamente autossuficiente, aos sessenta anos ele tinha dificuldade em segurar um martelo e não conseguia ler sem óculos o rótulo de um pacote de biscoitos Triscuit. Eu via minha avó esquecer as palavras, e chorei quando ela passou a esquecer o ano em que estávamos.
No trabalho, eu via as pessoas perto de se aposentar, os olhos sem brilho, o sorriso sem esperança, contando os dias em que deixariam tudo aquilo, mas tendo apenas uma vaguíssima ideia do que fariam quando tivessem um enorme tempo livre o dia todo, todos os dias.
No entanto, à medida que eu mesmo envelhecia e passava mais tempo com gente no quarto final da vida, passei a enxergar outros aspectos desse processo. Meus pais agora estão na faixa dos 85 anos, cheios de vitalidade como sempre foram, envolvidos em relações sociais, buscas espirituais, caminhadas, contato com a natureza e até iniciando novos projetos profissionais. Aparentam a idade, mas se sentem os mesmos que eram cinquenta anos atrás, e se admiram com isso.
Quando algumas faculdades ficam mais lentas, entram em ação mecanismos extraordinários de compensação — mudanças positivas de atitude e disposição, acompanhadas pelas vantagens excepcionais da experiência. Sim, o intelecto mais idoso pode ser mais lento do que o mais jovem para processar informações, mas consegue sintetizar de forma intuitiva toda uma vida de informações e tomar decisões mais inteligentes, baseadas em décadas de aprendizado com seus próprios erros.
Entre as várias vantagens da velhice, eles têm menos medo de calamidades porque já enfrentaram algumas no passado e conseguiram superá-las. Sabem que podem contar com a resiliência, tanto a própria quanto a do outro. Ao mesmo tempo, aceitam bem a ideia de que podem morrer logo. Isso não quer dizer que queiram morrer, mas que não temem a morte. Viveram de forma plena e tratam cada novo dia como propício para novas experiências.
Como neurocientista, pergunto-me por que algumas pessoas parecem envelhecer melhor do que outras. Será uma questão genética, de personalidade, de condição socioeconômica ou mera sorte? O que se passa no cérebro, que move essas mudanças? O que podemos fazer para deter a perda da agilidade cognitiva e física que acompanha o envelhecimento? Muita gente vive bem aos oitenta ou noventa anos, enquanto outros parecem se retirar da vida, prisioneiros de suas enfermidades, socialmente isolados e infelizes. Quanto controle temos sobre nosso futuro, e quanto é predeterminado?
Unindo pesquisas recentes em neurociência do desenvolvimento e psicologia das diferenças individuais, [o livro] O bom da idade apresenta uma nova abordagem de nossas percepções sobre as décadas finais da vida. Baseando-se em várias áreas de estudos, este livro demonstra que o envelhecimento não é apenas um período de decadência, mas um estágio original de desenvolvimento que — tal como a infância ou a adolescência — traz em si suas próprias exigências e vantagens.
Esse argumento provocador pode revolucionar a maneira como planejamos a velhice enquanto indivíduos, integrantes de uma família e cidadãos em sociedades industriais onde a expectativa média de vida continua a aumentar. Ele nos oferece escolhas possíveis que manterão nossa agilidade mental na casa dos oitenta, dos noventa e talvez ainda mais. Não precisamos ingressar trôpegos, apáticos e encurvados naquela boa noite; podemos aproveitá-la bem.
* David Levitin é neurocientista e autor de O Bom da Idade, pela Editora Objetiva