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Coluna da Lucilia

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Ruído alimentar

Quando pensar em comida deixa de ser normal

Por Lucília Diniz
Atualizado em 9 Maio 2024, 11h07 - Publicado em 22 mar 2024, 16h47

O que eu vou comer no lanche? Se eu economizar umas calorias, posso caprichar no jantar! Quem sabe até tomo uma taça de vinho… Nossa, mal acabei de tomar café e já estou com fome. Será fome? Na verdade eu queria muito um pão; um doce; um bolo de chocolate. Por que não paro de pensar em comida?

Pensar em comida é normal. Seja porque muito da nossa vida social se dá ao redor de uma mesa, seja porque comer é uma necessidade básica, grande parte do nosso tempo envolve programar o quê, quando, onde e com quem vamos fazer uma refeição.

Mas esses pensamentos corriqueiros não são como os do primeiro parágrafo. Esse fluxo incessante de ideias e visões de comida, que invade a cabeça mesmo quando a fome está saciada, é o que vem sendo chamado de “food noise”, ou “ruído alimentar”. É um novo nome para uma resposta cerebral estudada sob outras etiquetas há muitos anos.

A expressão “food noise” começou a aparecer com mais frequência associada às novas drogas contra a obesidade – elas teriam o poder de silenciá-lo. Mas essa escolha nem sempre é viável, e as canetas emagrecedoras não são o único caminho.

Esse excesso mental costuma também ter a ver com a associação entre comida e prazer – o lógico, portanto, é mudar o foco do que agrada você. Meu modo favorito, não canso de repetir, é fazer uma boa caminhada. A satisfação imediata do corpo é prolongada pelos resultados que a prática tem na qualidade de vida. Mas há várias alternativas, como outras modalidades de atividade física, meditação ou exercer um hobby.

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Em toda a minha trajetória buscando e divulgando informações sobre nutrição e bem-estar, sempre fui contra as dietas restritivas. A ciência me dá razão. Desde os anos 1950, pesquisadores estudam a relação entre a limitação calórica e respostas do corpo e da mente que levam a buscar comida. A restrição acende no cérebro o alerta de que é preciso obter a próxima refeição, ganhando formas exacerbadas diante da privação.

É claro que esse instinto, compartilhado por grande parte dos animais, incluindo humanos, se modulou ao longo da evolução, pois já não perseguimos com lanças o que vamos pôr no prato. Para a grande maioria, ele se manifesta como desejos mais sutis por comida, como a vontade de provar novos sabores ou comidas reconfortantes. Mas, para muitos outros, pode se tornar compulsão.

Comer prestando atenção plena – dica também antiga com nome novo, “mindfulness” – é básico, pois se alimentar distraidamente atrapalha a percepção da saciedade. E, se o zunzum na sua cabeça toma a forma de ideias sobre como preparar os alimentos, um jeito de limitá-lo é planejar com antecedência. Deixar o menu previsto não só facilita o dia a dia como também evita ceder às eventuais tentações com a desculpa da pressa.

E, se sentir que precisa de ajuda para calar as vozes gulosas na sua cabeça, não hesite e procure um profissional. O importante é fazer da alimentação um prazer exercido sem culpa e com moderação, dando à comida o lugar que ela tem, de combustível essencial para a manutenção da vida.

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