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Entre o rótulo e a realidade

A complexidade escondida nas escolhas alimentares

Por Lucilia Diniz
Atualizado em 9 Maio 2024, 12h13 - Publicado em 18 abr 2024, 19h03
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  • “Pizza sabor pepperoni. Produto orgânico”, dizia embalagem em um supermercado na Flórida. Nas letras miúdas, porém, a verdade se espalhava feito o molho sobre o disco de massa congelada: apenas os tomates processados faziam jus ao rótulo alardeado.

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    Na ocasião, eu pesquisava produtos saudáveis que pudessem ser lançados no Brasil. Alimentos sem agrotóxicos começavam a ganhar apelo popular. Conforme cresceu, esse mercado foi sendo regulamentado no mundo todo. Isso não impede que essa e outras nomenclaturas bem aceitas sejam ressaltadas para vender alimentos que, sem elas, poderiam parecer menos simpáticos.

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    Não se trata de jeitinho brasileiro. Uma pesquisa em sites internacionais mostra que não faltam exemplos de “pizza orgânica”, “sem conservantes”, feitas com “pepperoni não curado”, cuja carne vem de “porcos criados livremente consumindo ração vegetariana”. Ah, sim: às vezes a massa é “sem glúten”. São muitas opções, mas todas, sem distinção, se encaixam em uma definição mais ampla e mais recente – a dos alimentos ultraprocessados.

    Nos veículos de imprensa, o termo já migrou das páginas de saúde – nas quais recentemente foi associado a 32 doenças por cientistas de três continentes – e ganhou as de economia. A questão vem orientando políticas públicas em diversos países e, no Brasil, fala-se em taxar mais a “comida fabricada” para incentivar o consumo dos “alimentos de verdade”. Mas podemos de fato falar nessa oposição?

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    No dicionário, alimento é aquilo que contém substâncias que um organismo necessita para continuar vivo ou para crescer. Por que, então, se foi feito em uma fábrica, não mereceria essa definição?

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    Do meu ponto de vista, parece contraintuitivo limitar avanços de técnicas agrícolas e industriais que permitam nutrir um mundo em expansão, beirando os 8 bilhões de pessoas. É tão ruim mesmo que o pão nosso de cada dia venha em um pacote? Seria impossível, para a maioria das pessoas, inserir na rotina o preparo desse alimento que, de tão básico, é sinônimo de sustento. Como disse Louise Fresco, especialista em produção sustentável de alimentos, em uma palestra , “fazer tudo à mão não se justifica moralmente”.

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    A generalização e a falta de conhecimento adequado sobre os graus de processamento na indústria alimentícia podem levar o público geral a desconfiar de todo e qualquer produto vindo dela. Esse é um risco que não podemos correr. Por isso, usando da mesma cautela com que olhei de perto aquela pizza congelada, pondero: nem tudo é farinha do mesmo saco.

    Um pão com fibras adicionadas, ajudando a suprir a baixa ingestão desse elemento, é tão ruim quanto um salgadinho de bacon? Produtos conhecidos como “funcionais”, caso de iogurtes mais proteicos, podem ser considerados tão pouco nutritivos quanto uma porção de flocos açucarados? E, ficando nos cereais, uma granola feita com sementes integrais e sem açúcar é ruim apenas por poder ser comprada em uma embalagem?

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    Ao tentar encaixar tudo em grandes categorias predeterminadas, vai-se parte da nossa capacidade de adequar nossas escolhas a cada situação. É preciso olhar, sem hipocrisia, para o melhor meio-termo, que permita fornecer as calorias e nutrientes de uma dieta equilibrada, sem vilanizar a praticidade dos alimentos industrializados. Como diz um provérbio português, quem não tem pão – do tipo que for – tem muitas fomes.

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