Desde que a OMS publicou uma diretriz, no último dia 15, desaconselhando o uso de adoçantes em dietas para perda de peso, muitas pessoas quiseram ouvir minha opinião. A notícia reverberou em todos os meios e veículos de comunicação, teve grande espaço no telejornal noturno de maior audiência, mas a abordagem nem sempre teve o aprofundamento que o tema merece. E ao chegar às redes sociais e reuniões de amigos, o que não demorou nada, tinha se tornado um manancial de dúvidas.
Em parte isso se deve à pressa e, em parte, a um pouco de má vontade. Sempre suspeitei de que houvesse “haters” de adoçante. Como outros “odiadores”, esses também assimilam a informação de maneira distorcida para apoiar suas próprias crenças. São pessoas que condenam a origem industrial do produto para justificar o velho consumo de açúcar (esquecendo-se de que o refino também não é obra da natureza).
Quem me acompanha sabe muito bem que a nutrição equilibrada e a vida saudável são bandeiras que defendo, sempre com o olhar atento à ciência e a argumentos sólidos. Por isso me incomodei com a confusão, que espero ajudar a desfazer. Vamos aos fatos.
A diretriz da OMS não diz que os adoçantes são vilões. A recomendação não é dirigida a indivíduos, mas a governos, para que levem em conta possíveis riscos de efeitos indesejados na hora de formular políticas públicas e regulamentações. E, em nenhum momento, a organização defendeu substituir os adoçantes por açúcar. A ideia é que se reduza o consumo de alimentos adoçados de maneira geral, lembrando que numa dieta balanceada ele não deve passar de 10% da ingestão calórica diária.
Suspeitar do adoçante é um hábito antigo, coisa de mais de um século. Já contei há anos neste espaço que Theodore Roosevelt, presidente americano de 1901 a 1909, dispensou a tentativa de banir a sacarina dos EUA dizendo que qualquer um que falasse que ela fazia mal à saúde era um idiota. Ele próprio fazia uso da substância, sintetizada em 1879, para controlar sua dieta. Mesmo sem consenso sobre possíveis consequências à saúde decorrentes do uso dos edulcorantes em altas quantidades, o estigma pegou.
Embora eu saiba que experiência pessoal não é argumento, devo dizer que sou muito grata aos adoçantes. Sem eles, jamais teria resgatado minha saúde. Considero muito pouco provável que um obeso mórbido, com compulsão por doces, possa ser ajudado sem o auxílio de edulcorantes. Uma coisa é sair da área de risco que a obesidade gera, tendo que perder dezenas de quilos. Outra, posterior, é conquistar saúde e equilíbrio nutricional.
Ora, tudo em excesso faz mal. Mas existe uma boa margem de segurança para adoçantes, especialmente os que estão há décadas no mercado. Pesquisas ao longo dos anos apontaram para possíveis riscos associados ao uso de diferentes substâncias edulcorantes, sem jamais chegar a um consenso definitivo. Elas continuam, assim, sendo testadas e analisadas. Não são pozinhos ou elixires misteriosos que consumimos às escuras.
Para eliminar as dúvidas amargas, ficam aqui duas palavras mágicas. A primeira é “parcimônia”. A boa alimentação é a que tem de tudo um pouco. A segunda é “orientação”. Procure saber com seus profissionais de saúde o que é melhor para você.