O ensino será cada vez mais digital
Equipamentos mais potentes e internet rápida, além de conforto e maior alcance de aulas on-line, podem vir a tornar ensino presencial obsoleto
A história recente registra algumas transições interessantes de tecnologias – as mais antigas, embora consolidadas, dando lugar às mais novas e eficientes. Uma transição deste tipo bastante icônica foi o fim das lâmpadas incandescentes. Surgidas na forma comercial no fim do século 19, sua fabricação vem sendo gradualmente encerrada – no Brasil, sua história terminou em 2016 – dando lugar às lâmpadas de LED, mais eficientes em consumo de energia e de maior durabilidade. TVs de tubo, internet discada, os próprios celulares (que fazem a telefonia fixa parecer uma relíquia ainda em uso), a lista iria longe. O ensino digital poderia ser aqui elencado com naturalidade.
Os dados mais recentes à disposição mostram que a demanda por ensino a distância (EAD) já superou a de cursos presenciais – efeito, claro, da pandemia de covid-19, mas ainda assim bastante significativo. O Censo da Educação Superior 2020 – elaborado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e pelo MEC (Ministério da Educação) -, divulgado em fevereiro, mostrou que, naquele ano, houve mais de 3,7 milhões de matrículas registradas, e destas, mais de 2 milhões (53,4%) foram em cursos EAD (contra 1,7 milhão, ou 46,6% do total, em presenciais).
Essa inversão não deverá ser revertida mesmo depois da pandemia “chegar ao fim” – como diz o ditado popular, não há como colocar o gênio de volta na garrafa. O custo para os alunos tem seu papel em direcionar essa escolha – cursos EAD tendem a ser mais baratos que suas versões presenciais. Mas há mais que isso a compor essa decisão. Outro fator de peso é a praticidade: algumas formações podem prescindir em grande parte (quando não completamente) de comparecimento a salas de aula. Isso elimina deslocamentos e otimiza o tempo do estudante para se dedicar aos estudos.
Essa mesma característica pode ser vista de um ângulo ainda mais relevante: o ensino pode ser levado a qualquer parte. Uma aula sendo transmitida num Estado pode ser acompanhada por alunos de quaisquer outros – e mesmo de qualquer país. O Hospital Albert Einstein, por exemplo, já oferece 23 cursos EAD que têm alunos de países como Angola, Suíça e Portugal, e recentemente lançou um programa de inovação em biotecnologia. Cursos de instituições de ensino superior das escolas de maior excelência no mundo, estão abertos para milhões de pessoas. Os custos, outrora inacessíveis, já chegam ao alcance de milhares de pessoas que antes nem seria possível enxergar o ingresso nestas instituições.
E o Brasil já vive os momentos iniciais da velocidade 5G na internet móvel. A conexão ainda mais rápida tornará aulas em tempo real algo ainda mais fluido e eficiente. A verdade é que nos encontramos em um momento em que a capacidade de processamento dos dispositivos (de desktops e notebooks a celulares e tablets) e a velocidade na transmissão de dados formam um composto que torna a experiência virtual completa, agradável e eficiente. Vimos isso acontecer com a telemedicina – que já conta com grande aceitação dos usuários.
Tais avanços estão em seus passos iniciais. Para tudo isso será necessário, claro, estabelecer regras, legislação, fiscalização, treino de pessoal e investimento em infraestrutura. E terá de acontecer em passo acelerado, pois o metaverso já é uma realidade no comércio, por exemplo, e diversas outras áreas deverão logo se conectar a esse universo virtual mais imersivo. Cursos de maior complexidade, como na área de saúde, verão uma verdadeira revolução nos próximos anos com a integração aos meios digitais.
A pandemia fez acelerar inovações, como na educação, que talvez ainda estivessem um pouco mais à frente no futuro. Mas o ensino feito exclusivamente no formato de grupos de pessoas se deslocando para locais específicos a fim de adquirir conteúdo se tornará obsoleto, e isso não deve demorar muito mais – mesmo com muito ainda por ser feito para que isso aconteça. Nos próximos anos, o ensino presencial pode muito bem entrar na lista que inclui a lâmpada incandescente, a telefonia fixa e as TVs de tubo.