As primeiras transmissões de TV começaram ao longo da década de 1930. Neste quase um século decorrido desde então, a televisão se tornou objeto de discussões, estudos e análises sob diversos ângulos – do efeito que teria sobre a moral das populações e seu uso político às mudanças estéticas quer provocaria. Com o computador deu-se o mesmo – e, numa era digital como a que vivemos, ele tem uma importância e um efeito inegáveis nas vidas de todos. Um estudo recente mostrou também que ambos têm efeitos sobre a saúde – e tais efeitos são opostos.
Pesquisadores da USC (Universidade do Sul da Califórnia) publicaram na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences um estudo que mostrou que assistir TV por longos períodos após os 60 anos foi associado a um risco maior de desenvolver dêmencia. Ler e usar um computador, por outro lado, foram apontados como uma forma de se proteger contra a doença.
Demência, nas muitas formas em que se manifesta – doença de Alzheimer ou Parkinson, por causas vasculares, ou mesmo por traumatismo craniano, entre outras –, é definida, segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, na sigla em inglês, da Associação Psiquiátrica Americana), que a denomina Transtorno Neurocognitivo Maior, como comprometimento substancial em um ou mais domínios cognitivos, interferindo na independência nas atividades do dia a dia. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (dados de 2021), há cerca de 1,2 milhão pessoas que vivem com alguma forma dessa doença. No mundo, são cerca de 50 milhões de pessoas – e, até 2050, a Alzheimer’s Disease International estima que serão mais de 130 milhões.
O estudo aponta que tanto assistir TV como ler ou usar um computador envolvem ficar sentado por horas. No caso das duas últimas atividades, no entanto, a estimulação intelectual proporcionada é relativamente maior – o que de certa forma neutralizaria o efeito negativo de uma redução no fluxo sanguíneo no cérebro devido à posição.
Os dados da pesquisa mostraram que as pessoas que desenvolveram demência ficavam diante da TV ao menos 3 horas e 24 minutos por dia. Com quatro horas diárias diante da telinha, o risco de desenvolver demência apresentou um risco maior em 20% em relação a quem só passava duas horas assistindo TV. No caso do computador, uma hora de uso diário foi associada a uma redução de 25% no risco vivido por quem não usava computador. O estudo utilizou dados de mais de 140 mil pessoas acima de 60 anos, no UK Biobank (do Reino Unido).
O autor do estudo, Gene Alexander (professor de psicologia da Universidade do Arizona), disse que “ser mais mentalmente ativo” é um recurso fundamental maneira fundamental para ajudar a combater o aumento do risco de demência.
As conclusões a que chegaram os pesquisadores ajudam a desfazer um pouco a ideia mais difundida que ter um cérebro saudável seria resultado de ter uma vida menos sedentária – ou seja: mais ocupada com exercícios físicos. Com a pandemia, que nos fez ficar longos períodos dentro de casa, essa ideia ganhou ainda mais força. De fato, sedentarismo não faz bem algum, seja para os músculos, seja para o cérebro ou para qualquer parte do corpo. Mas isso não conta toda a história.
Manter a mente ativa, com estímulos intelectuais, é de enorme importância. O desenvolvimento da demência, é preciso lembrar, envolve vários riscos – diabetes, hipertensão arterial, obesidade e doenças cardiovasculares são apenas alguns exemplos. Mas a leitura ajuda a firmar conexões neuronais nas regiões do cérebro que registram nossas memórias. Uso de computadores, como mostrou o estudo, também proporciona estímulo intelectual.
Na era digital em que vivemos, aprender será algo que faremos em boa parte do tempo, independentemente da idade. Fazer uso dos recursos que a conectividade com o conhecimento nos traz, como se vê, pode nos ajudar a manter a mente saudável. A diversão televisiva, claro, tem seu espaço – mas, como em tudo, a moderação só faz bem.