Relâmpago: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Claudio Lottenberg

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

A pandemia vai passar – e com ela virá um ‘novo real’

A experiência do paciente e sua interação com os médicos ganharão cada vez mais relevo

Por Claudio Lottenberg
30 set 2020, 15h33

A Covid-19 tem atingido números superlativos no Brasil, tanto em óbitos como em casos de contaminação. Já são mais de 140 mil mortos, e se aproxima de 5 milhões o contingente de pessoas infectadas. Para que se tenha apenas uma dimensão do que significam esses dados, o número de infectados equivale à soma das populações de Belo Horizonte e Manaus, segundo estimativa do IBGE. Não só isso, a pandemia trouxe retração de investimentos e desemprego, que afetam centenas de milhares de famílias e a economia do país como um todo.

Em um cenário como este, pode parecer difícil estender o pensamento até o ponto em que a Covid será algo de que falaremos no tempo passado. Tudo é muito recente ainda e os efeitos negativos trazidos por ela devem se estender por um período impossível, no ponto em que estamos, de estimar. Mas pode-se dizer sem medo de errar: a pandemia de Covid-19 vai passar. A pandemia anterior mais recente em nossa história – a da gripe espanhola, de 1918 – também passou, e, como ela, outras antes.

E essa certeza traz consigo uma pergunta inescapável: o que poderá ser do mundo e da vida de cada um de nós quando a epidemia passar?

Uma lição clara, que a meu ver ficará em caráter definitivo, é: os pacientes ficarão muito mais preocupados – ou, talvez melhor dizendo: conscientizados – com sua saúde. Até porque, com os avanços da medicina – e falaremos disso logo à frente – não só vindos de pesquisas e desenvolvimento ocasionados pela pandemia, mas acumulados nas últimas décadas, a expectativa de vida aumentou. Com isso, cresceu também a necessidade de cada um buscar um modo de vida que seja sustentável – isto quer dizer: hábitos alimentares mais saudáveis, menos sedentarismo, cuidados com higiene e outros aprendizados legados pela pandemia.

A experiência do paciente e sua interação com os médicos ganharão cada vez mais relevo. A plataforma da assistência ganhará muita automação com a inserção da inteligência artificial e dos algoritmos. O processo digital acelerou muito neste período de pandemia: a telemedicina deixou de ser algo possível apenas na teoria, ou em caráter experimental (e até o domínio da ficção) para se tornar uma realidade em pleno uso. A chegada da conexão 5G ao Brasil, num futuro que se espera estar próximo, vai acelerar ainda mais a migração de muitas atividades hoje ainda realizadas de forma presencial, para o âmbito remoto.

Continua após a publicidade

Claro, o contato presencial com o médico nunca será totalmente substituído, mas ele poderá ocorrer apenas para procedimentos muito específicos – ao ponto de, quando vier a acontecer, o médico poderá já contar com todo um conjunto de informações acerca do paciente, recolhidos em contatos prévios por assistência remota e telemedicina. Ambas ocuparão o centro de uma estrutura de relacionamento, que formará um ecossistema, do qual os hospitais passarão a ser parte. Essa será uma mudança bastante sensível no modo como as pessoas se relacionam com os serviços e cuidados com a saúde hoje: os hospitais deixarão de ser a porta de entrada.

Tudo isso vai exigir, por outro lado, que os profissionais da saúde aprendam muito mais rapidamente novas modalidades tecnológicas. Teremos de conhecer certos detalhes e recursos antes quase que exclusivos do universo da informática, mas que foram sendo incorporados à linguagem e às práticas do dia a dia de quase todas as demais áreas. Daí a importância das plataformas de aprendizado à distância e das ‘edtechs’: o pós-pandemia será um período de consolidação das rotinas de aprendizado que adquirimos neste período.

Continua após a publicidade

Outro legado será como que um resgate do passado: doenças infectocontagiosas passarão a ocupar uma posição central nas preocupações sobre saúde, ao lado das doenças crônico-degenerativas. Melhorias nas condições de saneamento básico das cidades poderão ganhar um novo impulso dessa forma. Como ficou bem claro nesta pandemia, é preciso dispor de água encanada para que se preservem limpos ambientes e para a higiene pessoal – além de ser uma condição de dignidade elementar, que a todos deve atender.

Por fim – mas a lista aqui disposta não é exaustiva – pesquisa e ciência passarão a ser melhor entendidas em seus tempos e em suas exigências. Está bastante claro que a pesquisa científica em busca de vacinas, medicamentos e novos tratamentos demandam tempo, recursos e capital humano para serem desenvolvidos; pouco ganhamos com a busca de substâncias feita de forma açodada e sem planejamento. Há riscos envolvidos, e a pressa pode ter consequências sombrias. Além disso, os cientistas precisam ser valorizados no nosso país. A falta de investimento em ciência e em formação de cientistas é uma grande lacuna no Brasil – e esperamos que, quando a pandemia for passado, tenhamos um novo olhar, mais positivo, sobre o avanço e a dedicação à ciência.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.