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Claudio Moura Castro

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Por que falha o ensino a distância?

Reproduzimos nas aulas em vídeo os erros das aulas presenciais

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h59 - Publicado em 10 jul 2020, 06h00

Por que parece tão fraquinho o ensino a distância, para onde foi obrigada a migrar a escola básica? Resposta: porque é filhote de um ensino presencial péssimo. Sem entender isso, não se dá um passo à frente. A migração trouxe, pelo menos, três problemas. O primeiro resulta da implantação atabalhoada, inevitável pelas circunstâncias, mas curável com a experiência adquirida. O segundo são as dificuldades intrínsecas de operar aulas por meio de videoconferências no ciclo básico. O terceiro é por reproduzir os equívocos e as fragilidades do nosso ensino dentro dos estabelecimentos escolares.

O que mais distanciou o Homo sapiens dos outros primatas talvez tenha sido sua capacidade de pensamento abstrato. Outro salto veio com a escrita. Sendo assim, lidar com palavras, abstrair e pensar são da essência de uma boa educação. E essas faculdades não se desenvolvem na estratosfera, mas no vai e vem entre palavras e realidade. Por isso, espera-se uma educação para aprender a pensar, e não para decorar pensamentos, fatos, datas ou definições. Infelizmente, gasta-se tempo demais memorizando. Com isso, falta tempo para exercitar o pensamento. E, como dizia Alfred Whitehead (1861-1947), a boa educação ensina a descobrir a beleza e o poder das ideias.

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Sem aplicar o que aprendem, os alunos não chegam realmente a aprender. O ensino ativo, hoje redescoberto, não é muito diferente disso. Mas, com os currículos cronicamente abarrotados, não há como frear a corrida desabalada para cobrir as ementas. E, por faltar tempo para atividades práticas, não aprendemos.

“Digitalizando o errado, não há como sair certo. Mas não se condenem as novas tecnologias”

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Na mesma linha, o aluno aprende quando as ideias novas — sobretudo as abstratas — são rebatidas para um mundo conhecido por ele. É a chamada contextualização. Fácil concordar, mas requer encontrar os bons exemplos, aplicações, metáforas e analogias. As grandes teorias da pedagogia só funcionam quando se materializam em procedimentos concretos, para cada capítulo de cada disciplina. Isso tudo exige um enorme investimento de tempo para cuidar antecipadamente de cada detalhe. Improvisação é receita para o desastre que temos. Ensino bom é ensino minuciosamente planejado. Felizmente, esse pode ser um esforço conjunto dos autores com equipes pedagógicas.

Com amplo tempo e dinheiro, podemos passar a limpo o ensino convencional e transcrevê-lo para aulas remotas. Por exemplo, é o que fez o Telecurso 2000. O que não dá é empurrar para o ensino a distância, do dia para a noite, todos os entulhos e equívocos que sobrevivem nas nossas escolas. Digitalizando o errado, não há como sair certo. Não se condenem as novas tecnologias, mas sim o presencial de onde foi importado. Se o presencial não fosse pródigo em pecados, estaríamos melhor. Em contraste, para quem tem um presencial de qualidade e professores adequados, mais eficaz será a migração. A conclusão é clara. Podemos repensar a nossa escola presencial — e há bons exemplos no Brasil. Ou começamos do zero na sua versão em vídeo, lembrando que estar longe do aluno traz um sério desafio tecnológico. Mas, no fundo, avanços em um modelo podem migrar para o outro. Ademais, ambos os sistemas estão aí para ficar. Nada disso é fácil, mas as alternativas não parecem promissoras.

Publicado em VEJA de 15 de julho de 2020, edição nº 2695

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