A revista britânica Monocle, que todos os anos publica um ranking das melhores cidades para viver, elegeu neste ano Tóquio como a número um do mundo. A escolha indicou uma reviravolta nos quesitos de avaliação utilizados pela publicação desde 2007, quando foi divulgada a primeira lista das 25 melhores localidades. Mesmo com essa mudança, nenhuma cidade brasileira conseguiu entrar.
Tóquio é hoje a cidade mais populosa do mundo, com 13 milhões de pessoas vivendo no perímetro municipal e 37 milhões se considerada a região metropolitana. Ainda assim, nem de longe tem as paisagens caóticas de outros locais superpopulosos, como Nova Delhi ou Xangai, que são hoje a segunda e terceira maiores cidades do mundo, respectivamente. “Escolhemos Tóquio por apresentar o paradoxo de ter um tamanho de fazer parar o coração e, ao mesmo tempo, transmitir o sentimento de paz e tranquilidade”, afirma o texto da pesquisa.
Nas últimas edições, o topo do ranking havia ficado com cidades pacatas como Copenhague, vencedora em 2013 e 2014, ou Zurique, a melhor em 2012. Embora ambas estejam situadas em países desenvolvidos e ricos, não é só isso que explica seu sucesso. Somadas, as populações de ambas não chegam à de Campinas. São 500 mil pessoas vivendo em Copenhague e 400 mil pessoas em Zurique e claro que, com pouca gente, tudo tende a funcionar melhor. Por serem concentradas, não precisam espalhar suas linhas de transporte por centenas de quilômetros nem levar saneamento e iluminação pública a longas distâncias. Tudo é mais fácil e relativamente barato. Seus desafios, portanto, não são comparáveis aos de cidades que, ricas ou pobres, abrigam milhões de pessoas. E esse aspecto não pode ser ignorado, especialmente quando a concentração de pessoas em centros urbanos é a principal tendência do desenvolvimento das cidades neste século.
Desde os anos 1970 o mundo assiste à multiplicação de megacidades, aquelas que concentram 10 milhões de habitantes ou mais. As soluções de seus problemas são muito mais complexas e por isso dependem de uma boa parcela de criatividade para avançarem. Melhorar os deslocamentos, por exemplo, é muito mais do que apenas construir linhas de metrô. Significa criar ciclovias, calçadas que estimulam percursos a pé e até zoneamentos que permitam misturar comércios e residências, reduzindo os trajetos.
A escolha de Tóquio foi embasada na análise de 22 novas métricas sobre o que é uma boa cidade para se viver. Mas a mudança de avaliação da pesquisa apenas reflete a mudança de critérios que já vem ocorrendo nos últimos anos. Gradualmente, a facilidade de ter tudo por perto, a distâncias que podem ser percorridas a pé ou de bicicleta, vale mais do que a tranquilidade de um lar pacato, mas longe de tudo, às vezes, até mesmo das oportunidades de trabalho e estudo. E é justamente em busca de vidas melhores que, a cada mês, 5 milhões de pessoas saem das zonas rurais e migram para centros urbanos. A régua para medir a qualidade de vida não é mais a mesma de décadas passadas. “Foi a maior mudança feita na pesquisa desde que ela começou a ser realizada”, escreve a publicação. Com isso, a ex-campeã Copenhague foi parar na décima colocação e, o que é mais curioso, empatada com Zurique. Berlim ficou em terceiro e Viena em segundo, provas de que hoje não basta ser um bom destino turístico para ser um lugar onde as pessoas queiram viver.
Por Mariana Barros
>> Acompanhe os posts do Cidades sem Fronteiras no Facebook // Siga o blog no Twitter
LEIA MAIS