Desfiles no sambódromo custam 53 vezes a despesa da folia de rua e revertem menos aos cofres públicos
Prefeitura gasta 43 milhões de reais em dois dias de Anhembi e 800.000 reais com a estrutura para os blocos
No primeiro dia de desfiles no Sambódromo do Anhembi, o prefeito Fernando Haddad comparou o retorno financeiro que o blocos de rua trazem com o retorno das escolas de samba. São 400 milhões de reais no primeiro modelo e 250 milhões de reais no segundo. Além do retorno, existe a questão dos custos, o que torna a comparação ainda mais impressionante.
O Carnaval de rua é incomparavelmente mais barato que o do sambódromo. Neste ano, a festa dos blocos custará aos cofres públicos 800.000 reais. Outros 4,6 milhões são bancados pela patrocinadora oficial da folia de rua, a Amstel, marca de cerveja pertencente à Heineken Brasil. Os valores incluem todo o calendário da festa, que, além de ser gratuita para os foliões, se espalha por todas as regiões da cidade, das mais ricas às mais carentes.
Já para bancar para o espetáculo das escolas de samba a prefeitura libera 43 milhões de reais, cinquenta e três vezes a despesa da folia de rua. E quem quiser assistir precisa pagar caro. Os ingressos partem de 90 reais e podem chegar a 2.420 reais. Direitos de transmissão pela televisão e o patrocínio oficial para os desfiles são usados para bancar a LigaSP, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, que financia as escolas e mantém uma delicada relação com a administração municipal.
Já o modelo do Carnaval de rua é bem diferente — principalmente por ser descentralizado. A prefeitura oferece a infraestrutura de limpeza, desvios de rota nos bairros e banheiros químicos. E os blocos arcam com os próprios custos: carros de som, camisetas, instrumentos, seguranças particulares etc. Essas despesas são pagas por sistemas de cotas (espécie de vaquinha entre os foliões) e por patrocinadores que independem do patrocínio oficial da prefeitura. Concorrentes da Amstel, como a Skol, da Ambev, patrocinam alguns dos blocos.
LEIA TAMBÉM:
– Dois em cada três foliões do pré-Carnaval de SP participaram da festa de rua pela primeira vez
– Carnaval de rua atesta que o paulistano redescobriu o prazer de estar no espaço público
A secretaria municipal de Cultura exigiu que a Amstel pagasse pela montagem de palcos para shows na periferia e solicitou ainda um adicional de 300.000 reais para ser direcionados ao patrocínio de alguns blocos. A cervejaria e os blocos selecionados para receber o investimento fizeram os acordos diretamente. Coube a eles, assim como a todos os outros, se comprometerem a seguir a cartilha da prefeitura que determina as regras de exibição das marcas apoiadoras e cumprir horários e trajetos acordados. Ambulantes credenciados e cadastrados e usam coletes com o logotipo da Amstel, mas não são obrigados a vender a marca com exclusividade — podem também oferecer as concorrentes.
Abadás são proibidos em São Paulo, uma vez que o decreto que estabelece as regras do Carnaval de rua determina que não se pode cobrar pela participação. Em Salvador, onde os cordões e os abadás são tradicionais, as vendas de ingressos para entrar a folia de rua vem apresentando queda, superada pela procura por camarotes VIPs instalados ao longo dos circuitos.
No Brasil todo, festas mais baratas e democráticas devem ganhar impulso nos próximos anos. São reflexo de uma mudança cultural já em curso mas também de algo nada alegre, a gravidade da crise econômica.
Por Mariana Barros
>> Acompanhe o Cidades sem Fronteiras no Facebook // Siga no Twitter// E no Instagram