A delicada relação entre árvores e chuvas: Eduardo Jorge fala sobre como uma cidade pode ser arborizada e segura
O temporal que ocorreu ontem em São Paulo fez desabar o teto de um hangar do aeroporto de Congonhas, na zona sul. No resto da cidade, ventos de até 85 km/hora derrubaram ao menos 85 árvores. Estrago semelhante já havia ocorrido em 28 de dezembro, quando foram registradas 216 quedas de árvores, ao ponto de […]
O temporal que ocorreu ontem em São Paulo fez desabar o teto de um hangar do aeroporto de Congonhas, na zona sul. No resto da cidade, ventos de até 85 km/hora derrubaram ao menos 85 árvores. Estrago semelhante já havia ocorrido em 28 de dezembro, quando foram registradas 216 quedas de árvores, ao ponto de o Parque Ibirapuera ser interditado para a remoção dos troncos e galhos tombados, algo inédito em sua história. Na semana anterior, um administrador de 33 anos morreu ao ser atingido por uma árvore que despencou em cima do táxi em que estava em Higienópolis, na região central. E vem mais chuva por aí.
Situações como estas revelam o delicado equilíbrio entre desenvolvimento urbano e preservação da natureza. Por um lado, todo mundo quer viver em meio a ruas e praças bem arborizadas. O número de exemplares tombados é de partir o coração, especialmente em metrópoles que já são carentes de áreas verdes, como São Paulo. Por outro lado, não há quem não tema o efeito de eventuais quedas de árvores sobre a fiação elétrica, telhados, carros ou mesmo nas ruas, com o agravante de gerar enormes congestionamentos. Mas isso, é claro, não é nada perto do risco de haver pessoas fatalmente atingidas, como de fato ocorreu nesse triste episódio do mês passado.
O ambientalista Eduardo Jorge, candidato pelo PV na última eleição presidencial e secretário do Verde e Meio Ambiente da prefeitura paulistana entre 2005 e 2012, falou ao blog sobre por que o equilíbrio entre vegetação e segurança urbana é tão tênue e quais os caminhos para estabelecer uma convivência saudável entre elas. Para Jorge, a rede elétrica é um dos principais vilões. A fiação suspensa exige que as podas sejam feitas não de acordo com o que é melhor para a saúde e o desenvolvimento da árvore, mas apenas para abrir espaço a postes e cabos elétricos. O resultado são cortes drásticos e exemplares vulneráveis.
Além disso, é preciso que a espécie plantada seja compatível com o espaço destinado a ela. Antigamente, era moda escolher árvores estrangeiras, como a tipuana, que hoje está entre as que mais caem em São Paulo. Isso porque elas são grandes demais para estarem no meio da cidade e também muito antigas, plantadas lá nos anos 1950, quando foram criados bairros bem arborizados como Jardins e Alto de Pinheiros. Hoje, a orientação da prefeitura é escolher exemplares típicos, que pertençam ao bioma da região. Pela cartilha municipal, são consideradas inadequadas para São Paulo jaqueiras, seringueiras e eucaliptos. Para saber o por quê, basta imaginar qualquer uma delas no canteiro central da Avenida Paulista. Pelos mesmos critérios, o pau-brasil e o ipê amarelo são liberados.
Abaixo, Eduardo Jorge responde a três perguntas sobre essa delicada convivência.
Por que chegamos a este ponto, em que grandes árvores geram insegurança durante temporais?
Há quatro razões principais. Primeiro, o plantio antigo de espécies exóticas e inadequadas. Somado a isso, a existência de uma rede elétrica primitiva e obsoleta, que provoca constantes podas agressivas, responsáveis por debilitar a saúde das árvores e provocar seu desequilíbrio. Para piorar, a impermeabilização das áreas de calçadas em volta dos troncos, o que aumenta a instabilidade das árvores. E, por fim, o pouco orçamento municipal das subprefeituras para os cuidados de manutenção.
É preciso optar entre a segurança das pessoas e a preservação da vegetação?
Não. A arborização é uma necessidade ambiental e de saúde para uma cidade, pois dela depende boa parte do clima e umidade adequada do ar. Defendo a manutenção e ampliação da arborização em calçadas, praças, parques, jardins, quintais etc. Só que São Paulo, além da arborização reduzida, tem inegáveis problemas na manutenção das árvores. Se esses problemas forem bem administrados, equilibra-se a relação entre segurança e ambiente.
O que pode ser feito?
Posso citar algumas ações que comandei na minha gestão e deram resultados positivos. Passamos a exigir que em todos licenciamentos de obras públicas e privadas fossem implantadas as chamadas calçadas verdes, aquelas que têm uma faixa permeável para ajudar a absorver a água das chuvas e dar condições mais sadias para o desenvolvimento das árvores. Também priorizamos a abertura de áreas permeáveis ao redor de exemplares já plantados nas calçadas. Outro ponto importante é orientar cidadãos e empresas sobre o que pode ser plantado e de que maneira. Elaboramos normas municipais de plantio, permitido só para espécies nativas do nosso bioma, e normas para poda racional, além de aplicação de lei para punir as podas drásticas, comuns quando a árvore ameaça a rede elétrica. Acredito que este deva ser nosso caminho nesta política pública. A prefeitura tem bons agrônomos concursados. Se o orçamento municipal desse melhores condições, eles poderiam fazer um trabalho muito melhor, tanto no curto quanto no longo prazo.
Por Mariana Barros
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