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O legado de Raphael Mechoulam, considerado o pai da cannabis medicinal

Morto aos 92 anos, o pesquisador foi pioneiro em sintetizar compostos como THC e CBD e em estudar o sistema endocanabinoide

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 mar 2023, 18h36
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  • O químico israelense de origem búlgara Raphael Mechoulam morreu na última sexta-feira (10), aos 92 anos. Conhecido como o “pai” da cannabis medicinal, Mechoulam deixou um legado importante de pioneirismo de contínua dedicação ao estudo da erva. Até hoje, quase 60 anos desde suas primeiras descobertas, seu trabalho continua servindo de inspiração para que outros continuem a explorar o potencial da cannabis.

    Nascido em Sofia, na Bulgária, Mechoulam emigrou com a família para Israel em 1949, fugindo da contínua perseguição aos judeus. Seu pai, diretor de um importante hospital, chegou a ser enviado para um campo de concentração nazista, mas conseguiu sobreviver. Atuou no exército israelense fazendo pesquisas com inseticidas e descobriu seu interesse por química e pela pesquisa científica. Após concluir seu PhD, recebeu uma bolsa para estudar no Rockefeller Institute, em Nova York, nos Estados Unidos, e optou por estudar uma erva que, ao contrário de outras drogas, como a morfina, isolada da planta de papoula, e a cocaína, isolada das folhas de coca, ainda não havia recebido a atenção devida.

    Mas a tarefa não foi fácil. O governo dos Estados Unidos negou a autorização necessária. Foi em Israel que Mechoulam conseguiu avançar nas pesquisas, também às custas de grandes esforços. A matéria-prima dos testes, por exemplo, precisava ser contrabandeada do Líbano.

    Finalmente, em 1964, Raphi, como era conhecido pelos colegas, conseguiu isolar o THC, canabinóide responsável pelo princípio alucinógeno da planta. No auge do movimento hippie, seu nome era conhecido por todos aqueles que consumiam a erva com objetivo recreativo. Continuou estudando a cannabis e obteve outras grandes conquistas. Também foi pioneiro em o CBD (canabidiol) e o CBG (canabigerol), dois outros compostos canabinóides considerados não intoxicantes.

    Em 1992, foi novamente pioneiro ao identificar os endocanabinoides anandamida e 2-arachidonolyl-glycerol (2AG) e abriu caminho para o estudo do sistema endocanabinoide, conjunto de receptores, ligantes e enzimas que atuam como sinalizadores entre as células. São eles os “alvos” dos compostos contidos na planta e nos medicamentos à base de cannabis.

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    Mechoulam continuou trabalhando até o fim da vida. Em 2019, aos 88 anos, participou da CannMed, convenção realizada na Califórnia, e apresentou uma versão estável e sintetizada do Ácido canabidiólico (CBDA), principal fitocanabinóide encontrado na fibra e no óleo de cânhamo, que contém propriedades anti-inflamatórias.

    O pesquisador deixa não apenas um sólido legado que ajudou a consolidar os conhecimentos existentes hoje sobre a cannabis como seu pioneirismo continua a inspirar tantos outros a buscar respostas sobre uma planta que tem muito a mostrar, mas que ainda é vista com preconceito em diversas sociedades.

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