Um amplo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, aponta que para os usuários do Ayahuasca os benefícios oferecidos pela substância superam os efeitos físicos adversos relacionados a seu uso.
De acordo com os resultados do Global Ayahuasca Survey, extenso questionário online realizado entre 2017 e 2019 que ouviu 10.836 pessoas ao redor do mundo, 88% dos entrevistados afirmaram que reações como vômito (relatado por 69,9% dos usuários) e efeitos mentais adversos nas semanas ou meses seguintes ao uso (relatados por 55,9% dos usuários) fazem parte do processo de crescimento associado à bebida e são esperados. Muitos continuam a frequentar as cerimônias, indicando que os benefícios superam os efeitos adversos.
Usado em rituais em diversas partes do mundo, o Ayahuasca é um psicodélico preparado a partir da combinação da videira Banisteriopsis caapi com plantas variadas, especialmente Psychotria viridis e Diplopterys cabrerana. No Brasil, o ayahuasca é usado como parte da cerimônia religiosa do Santo Daime, doutrina surgida na região amazônica que tem na bebida o ponto central da busca por autoconhecimento.
“Recentemente, assistimos ao crescimento de uma cultura de retiro clandestino no hemisfério ocidental, na qual as pessoas pagam centenas de dólares para ingressas”, afirma Daniel Perkins, um dos autores do estudo, em entrevista à publicação Healthtime. “É uma experiência espiritual, mas não é algo que você levanta e dança. Não há uso recreativo real além da cura alternativa. No geral, a bebida não é amplamente consumida”, conclui.
O estudo é importante pois pode ajudar os pesquisadores a entender como predisposições e a combinação de uso prévio de outras substâncias psicodélicas podem gerar efeitos adversos em pacientes que buscam o ayahuasca. Pesquisas posteriores podem ajudar a estabelecer políticas públicas e a regulamentação da substância.
“Muitos estão recorrendo ao ayahuasca por conta da desilusão com tratamentos convencionais de saúde mental ocidentais”, dizem os autores em um comunicado. “O poder disruptivo dessa medicina tradicional, no entanto, não deve ser subestimado, geralmente resultando em saúde mental ou desafios emocionais durante a assimilação”.