Um chimpanzé teria algumas medalhas de ouro garantidas se pudesse competir este mês no Rio de Janeiro. Mais baixo e entre 15 a 20 quilos mais leve que os humanos, ele tem o dobro da força. Num experimento de 1926, uma chimpanzé chamada Suzette conseguiu erguer 571 quilos – mais que os 475 quilos do russo Aleksey Lovchev, atual recordista em levantamento de peso. Isso tudo sem treinamento e apesar da dificuldade de convencer os animais a levantar pesos em vez de tentar destruí-los ou atirá-los pela sala.
Chimpanzés comuns (não estamos falando de nenhum indivíduo acima da média) venceriam Usain Bolt nos 100 metros rasos. Conseguem se locomover a 40 quilômetros por hora por alguns minutos, mais que os 37 quilômetros por hora de Bolt em seu melhor tempo.
Em luta livre, nossa derrota seria esmagadora. Chimpanzés podem partir a cabeça de humanos em poucos segundos, o que frequentemente provoca notícias tristes de cientistas e cuidadores mortos pelos animais. Em julho passado, uma funcionária de um santuário de primatas de Sorocaba, em São Paulo, foi atacada durante alguns instantes por um chimpanzé do parque. Teve diversas fraturas expostas e lesões no rosto.
Somos mais fracos que os chimpanzés porque somos bípedes. Quando os ancestrais humanos deixaram as árvores e partiram para longas caminhadas nas savanas da África, músculos para subir em árvores deixaram de ter importância. Perdemos força e a capacidade, comum entre os primatas, de agarrar galhos com os pés.
Em troca, ganhamos resistência para andar e correr longas distâncias. O chimpanzé derrota Bolt nos 100 metros rasos, mas perde dos humanos em qualquer prova de maratona. Poucos mamíferos têm tanta resistência para longas distâncias quanto o homem. O próprio nariz humano, essa coisa esquisita e incomum na natureza, é uma adaptação que nos permite caminhar em lugares secos sem correr o risco de desidratação. O nariz projetado para fora, diferente do nariz chato dos demais primatas, aumenta o contato entre o ar e as membranas mucosas, umidificando o ar que vai para os pulmões.
O hábito de andar sobre dois pés provavelmente contribuiu para nossa principal capacidade, a inteligência. “Ao se tornar eretos, os primeiros ancestrais humanos emanciparam suas mãos da locomoção, libertando-as para fazer ferramentas e usá-las, o que depois favoreceu a evolução de cérebros maiores e da linguagem”, diz o biólogo Daniel Lieberman no livro A Evolução do Corpo Humano. Perdemos para chimpanzés num ringue de luta livre, mas vencemos por nocaute se tivermos uma ferramenta à mão.
@lnarloch