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Uma geração mal-acostumada com a seleção brasileira

Para quem está na casa dos 30 anos, ver o Brasil fora de uma semifinal é inaceitável, mas comum na história de nossa equipe

Por Lucas Mello Atualizado em 11 jul 2018, 15h04 - Publicado em 11 jul 2018, 14h59
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  • Ligar a televisão durante uma transmissão de semifinal de Copa do Mundo e não ver o Brasil ainda é (ou era?) muito estranho para mim. E acredito que seja para a maioria das pessoas na minha idade. Nasci em 1986 e o primeiro Mundial que me recordo é o de 1994, no qual a seleção chegou à final e foi campeã após 24 anos. Nas duas Copas seguintes, novamente duas finais e o estrago já estava feito: estávamos mal-acostumados, e com razão. Desde 1938, quando tivemos um time com estrelas como Leônidas da Silva disputando um Mundial, entramos nos torneios sempre entre os favoritos. E esse favoritismo muitas vezes não se concretizou por falhas fora de campo, de organização, como em 1966, quando 45 jogadores foram convocados às vésperas do torneio, sendo que 16 deles nunca haviam jogado pelo Brasil.

    Em 2018, o Brasil chega à sua quarta Copa seguida sem estar na decisão e com apenas uma semifinal, em 2014, competição que teve um desfecho trágico do qual não vale a pena se lembrar. Na Copa de 2006, o time chegou como favorito à conquista, e a eliminação para a França nas quartas de final não foi bem digerida. Críticas à forma como a seleção se concentrava e até a forma física dos jogadores foram lembradas. Em 2010, novamente nas quartas de final, o resultado não foi bem aceito pelo torcedor. O técnico Dunga foi muito criticado após a derrota para a Holanda nas quartas de final, justamente no melhor jogo do Brasil na África do Sul. No Mundial deste ano, a derrota não foi tão sentida. As pessoas aceitaram como algo normal e viram uma evolução em relação às últimas competições, mesmo com nova derrota em quartas de final, contra a Bélgica. Para mim, não foi normal.

    Parece ser o pior momento da seleção, mas não é. A geração de meus pais, por exemplo, até cresceu com um time campeão, mas pouco pôde ver. Minha mãe nasceu dois dias antes do Maracanazo, na derrota para o Uruguai, em casa, em 1950. Meu pai, em 1954. Pouco se lembram da conquista de 1958, mas têm lembranças rasas de 1962. O problema desses títulos é que não tiveram transmissão ao vivo pela televisão. As conquistas chegavam apenas pelas ondas do rádio e em videoteipes das partidas dias depois.

    Tabela completa de jogos da Copa do Mundo 2018

    A primeira Copa com transmissão por rádio e televisão ao vivo no Brasil foi a de 1970. Naquele ano, aquela geração pôde finalmente ver o time campeão, mas nem todo mundo. A existência de televisores nas residências ainda era rara (de acordo com o Censo da época, 4 milhões de lares tinham o aparelho, atingindo 25 milhões de pessoas em um universo de 90 milhões) e o sinal não chegava a todos os cantos do país. Logo após sentirem o gostinho de uma conquista, ficaram cinco mundiais seguidos sem sequer chegar a uma semifinal.

    Em 1974, 1978 e 1982, o Brasil alcançou a fase quartas de final, em modelo diferente do que é disputado hoje, em grupos. Por isso, a seleção até disputou o terceiro lugar nos dois primeiros, mas sem jogar uma semifinal. No Mundial de 1986, o time foi eliminado pela França nas quartas de final e, em 1990, pela Argentina nas oitavas. Foram 24 anos e cinco mundiais sem conquistas, apesar da campanha invicta de 1978 e o time de futebol ofensivo, elogiado por todo mundo, de 1982. Após o Mundial da Espanha, a derrota não foi tão sentida nas Copas seguintes.

    A nova geração vive uma situação semelhante. Quem nasceu no começo desse século ouve histórias de um time campeão, mas nunca viu isso em Mundiais. Em 2022, no Catar, o Brasil enfrentará uma fila de 20 anos sem conquistas e com uma geração desacostumada aos triunfos, como a geração de meus pais. Mas a história é cíclica…

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