Thiago Silva em alta, Gabriel Jesus contestado; o balanço da seleção
Time fez uma primeira fase bastante digna e entra forte para a reta final, mas alguns atletas renderam abaixo do esperado na Rússia
MOSCOU – A seleção brasileira cumpriu seu objetivo na primeira fase da Copa do Mundo da Rússia e terminou na liderança do complicado Grupo E, com um empate contra a Suíça e duas vitórias, contra Costa Rica e Sérvia. Apesar de cercada por clima de tensão nos três jogos, a equipe de Tite manteve um padrão e fechou a chave com apenas um gol sofrido e cinco marcados – apenas Uruguai, Croácia, Bélgica e Inglaterra terminaram com saldo superior. O time chega em boa fase para as oitavas de final diante do México, em Samara, na próxima segunda-feira, já que a maioria dos atletas teve atuações boas ou regulares; apenas dois dos titulares decepcionaram em toda a primeira fase; confira:
Tabela completa de jogos da Copa do Mundo de 2018
Destaques
Philippe Coutinho: o maestro
O principal jogador do time na primeira fase. Em seu primeiro Mundial, aos 26 anos, Coutinho demonstrou enorme maturidade e vem sendo o “ritmista” (o meia que dita o ritmo do jogo) que Tite tanto buscou. Com a entrada de Willian, foi escalado para jogar por dentro, mais centralizado, e dominou a posição, aliando fantasia e efetividade. Marcou dois gols, sendo um golaço na estreia, e deu uma assistência perfeita para Paulinho contra a Sérvia. O melhor “sócio” de Neymar já é um dos candidatos a craque do Mundial.
Thiago Silva: impecável
Na primeira fase, o camisa 2 foi um “monstro”, como era carinhosamente chamado pela torcida do Fluminense. Zagueiro marcado pelo fracasso na Copa de 2014 e outras falhas, Thiago Silva conseguiu ganhar a confiança de Tite, que, às vésperas do Mundial, anunciou que o experiente jogador de 33 anos voltaria a ser titular, na vaga que foi de Marquinhos nas eliminatórias. Seguro na bola área e perfeito nas antecipações, Thiago também se destacou no ataque (marcou o gol que deu tranquilidade ao Brasil diante da Sérvia) e demonstrou mais liderança que há quatro anos. É, inclusive, um dos cotados a ostentar a braçadeira de capitão em caso de uma hipotética final.
Casemiro: o cão de guarda
O volante do Real Madrid já está acostumado a se sacrificar para que os outros brilhem e vem cumprindo seu papel na Copa do Mundo. Com enorme vigor físico e leitura de jogo, Casemiro é quem sustenta as subidas de Paulinho e dos laterais, e ainda tem fôlego para se apresentar ao ataque (chutou duas vezes a gol com perigo). Assim como Coutinho e Neymar, está pendurado com um cartão, uma grande preocupação para Tite.
Tite: corajoso
O treinador correu o risco de morrer abraçado com seus jogadores ao bancar a titularidade dos atletas mais contestados, alegando “coerência”, e, sobretudo, ao chamar para si a responsabilidade na véspera da decisão contra a Sérvia, tirando a pressão dos ombros de Neymar. Suas apostas, no entanto, foram certeiras. Tite mexeu bem nas três partidas, principalmente contra a Costa Rica, quando trocou Willian por Douglas Costa no intervalo (atitude pouco usual em sua carreira). Firmino, Fernandinho, Fagner, Filipe Luís e Renato Augusto também deram conta do recado quando foram acionados. O ambiente na seleção é dos melhores, os atletas se gostam e se respeitam, e Tite e sua comissão têm enorme influência nisso.
Regulares
Miranda: sobriedade
O zagueiro da Inter de Milão foi outro líder do time na primeira fase. Lúcido, como sempre, entendeu-se rapidamente com o novo parceiro de zaga, foi bem nas disputas aéreas – exceto no gol contra a Suíça, quando foi empurrado no início das jogadas. É até agora o mais faltoso do time, com cinco infrações, mas transmitiu segurança desde o início. Foi o capitão do time no terceiro jogo e pregou desde o início que o Brasil não deveria se desesperar diante da pressão.
Fagner: deu conta do recado
O lateral do Corinthians foi o atleta que causou maior apreensão nos torcedores, por vir de lesão e ter pouca experiência na elite do futebol, mas não comprometeu em nada, pelo contrário. Alçado ao posto de titular depois das lesões de Daniel Alves, antes da Copa, e de Danilo, na véspera do segundo jogo, Fagner foi bastante sólido na defesa, apesar da baixa estatura (1,68 metro) – ele trabalhou um ano e meio com Tite no clube paulista e entende bem a sua filosofia. No ataque, foi bastante sóbrio e deu até mais possibilidades de triangulação que Danilo, que se destaca mais pela força. O jogador do Manchester City retornará aos treinos nesta semana, mas Tite ainda não definiu quem será o titular contra o México.
Neymar: de menos a mais
O principal jogador da seleção brasileira ainda está longe de sua melhor versão (física, técnica e comportamental), mas, ainda assim, foi um dos atletas mais ativos de toda a primeira fase. Fez um gol, finalizou oito vezes no gol, deu uma assistência, levou diversas faltas, provocou cartões amarelos, levou um por reclamação, distribuiu dribles desconcertantes… Neymar pode até jogar mal, mas nunca se esconde do jogo. Diante da Costa Rica, pareceu “domado” depois de reações exageradas nas outras partidas, soltando mais a bola e sem correr riscos de ser suspenso. Tem tudo para crescer na reta decisiva.
Paulinho: em busca da brecha
O camisa 15 foi um dos principais jogadores das eliminatórias, mas ainda não deslanchou na Copa do Mundo. Sua principal marca é a transição rápida e a inteligência para penetrar e finalizar. Diante de defesas muito fechadas, como as de Suíça e Costa Rica, Paulinho ficou preso na marcação e teve atuações discretas, tanto que foi substituído. Sua especialidade, porém, foi vista mais vezes contra a Sérvia, sobretudo na infiltração que terminou no belo gol por cobertura. Após a partida, o meio-campista reclamou de parte da imprensa, que considera que “para jogar bem, o Paulinho tem de fazer gol.” Na verdade, ele precisa de espaço para jogar e aproveitar seu vigor físico, o que possivelmente ocorrerá com mais frequência nas fases decisivas. Tem a total confiança de Tite.
Marcelo: ainda tímido
Capitão do time na estreia e considerado um dos atletas mais bem dotados tecnicamente do planeta, o lateral ainda não conseguiu repetir na seleção as grandes atuações que teve na temporada pelo tricampeão europeu. Como ele próprio fez questão de explicar, na seleção Marcelo atua em um esquema diferente, com mais funções defensivas (no Real Madrid, Zidane lhe dava liberdade para atuar como um ponta quando sua equipe tinha a bola). Nas primeiras duas partidas, Marcelo não comprometeu, mas também não brilhou. Na última, saiu com lesão nas costas (foi bem representado por Filipe Luís), mas disse que não preocupa e deve voltar ao time em breve.
Alisson: pouco trabalho
Ajudado pelo ótimo desempenho do sistema defensivo – que, como Tite gosta de lembrar, não é composto apenas de laterais e zagueiros –, o goleiro da Roma foi pouquíssimo acionado no Mundial. Segundo os números da Fifa, realizou apenas duas defesas nas três partidas da primeira fase. Levou um gol, da Suíça (em jogada em que o Brasil reclamou de falta). Seguro nos cruzamentos e eficiente no jogo com os pés, vem correspondendo à confiança do técnico em seu primeiro Mundial.
Decepcionaram:
Willian: ‘foguetinho’ não decolou
Um dos atletas mais queridos por Tite, o habilidoso meia-atacante do Chelsea não conseguiu repetir no Mundial as belas atuações que teve nos amistosos preparatórios, quando ganhou a disputa por titularidade com Fernandinho. Em dois jogos e meio, Willian não finalizou nenhuma vez na meta (apenas duas para fora) e também sofreu para superar as marcações, que possivelmente estudaram bem seus últimos jogos e lhe negaram espaços. Enfrentaria a forte concorrência de Douglas Costa, destaque ao entrar contra a Costa Rica, se o ponta da Juventus não tivesse se machucado. Tite deu respaldo a Willian nas entrevistas, mas ele é quem mais parece ameaçado no momento.
Gabriel Jesus: muita luta, pouca bola
O caçula do time titular (21 anos) se dedicou ao máximo nas três partidas. Correu, batalhou, ajudou a defesa (foi o segundo mais faltoso, com quatro infrações) e cumpriu importantes funções táticas. Também teve um gol bem anulado, acertou uma bola no travessão e deu uma assistência para Coutinho diante da Costa Rica. Gabriel, no entanto, foi pouco efetivo com a bola: teve dificuldades para dominar e, geralmente cercado por defensores, não encontrou soluções para finalizar. Não foi um desastre, mas certamente foi pouco para quem ostenta a camisa 9 do Brasil. Enfrenta cada vez mais a concorrência de Roberto Firmino, constantemente elogiado por Tite.