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‘Onyx não tem carta branca do governo’, diz líder do DEM

Deputado baiano Elmar Nascimento também critica participação de filhos de Jair Bolsonaro no governo: "Ninguém votou em familiar para presidente"

Por Rodrigo Daniel Silva
25 fev 2019, 13h07

Líder do DEM na Câmara, o deputado federal Elmar Nascimento (BA), afirma que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) ainda precisa encontrar o “Posto Ipiranga da política”: alguém para auxiliar o presidente da República a articular a relação entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. Para ele, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, seu colega da partido, não tem conseguido fazer este papel.

“Ele [Onyx] não tem carta branca para poder resolver as coisas. Depende da opinião de outros. Está faltando o Posto Ipiranga da política. É preciso saber quem efetivamente está falando em nome do governo”, disse o parlamentar, que também lidera um bloco de onze partidos, que inclui do PSL ao PSDB e reúne 301 deputados. Nascimento também afirma que a presença dos filhos de Bolsonaro atrapalha o governo. “Ninguém votou em familiar de presidente. Se ele quiser que algum dos filhos dê publicamente opinião, é só nomear.”

Em entrevista concedida a VEJA, ele reiterou um posicionamento que já foi manifestado pelo presidente do DEM, ACM Neto, de que a legenda não compõe a base de apoio ao governo. “Isso depende de um convite formal do presidente da República”, afirmou Nascimento.

O senhor acha difícil aprovar a reforma da Previdência sem o governo negociar cargos e recursos? O natural é que quem participe do governo, participe em todos os aspectos. Não é possível que o governo tenha a capacidade de, a partir de Brasília, conhecer pessoas em todos os estados da federação. Ele tem que valer de indicações de alguém. Ele vai usar as indicações dos aliados ou dos adversários? É claro que as indicações vão partir dos aliados. Mas uma coisa não está condicionada a outra, porque temos consciência da necessidade da reforma da Previdência.

Vê dificuldade na comunicação entre o governo e o Congresso? Depende de um ajuste na articulação política. O time do governo foi formado há bem pouco tempo. Tem menos de dois meses. Precisa definir a posição que cada um joga. Acho que está faltando esta definição no centroavante. Não adianta ter três para fazer o gol. Quem tem três não tem nenhum. Tem que ter um centroavante postado na pequena área para empurrar a bola para dentro. Então, está faltando um articulador político: quem é a pessoa definida para ter essa relação com o Congresso;  quem procura e tem a carta branca para poder dar a palavra e essa palavra ser cumprida. Falaram que o Paulo Guedes é o Posto Ipiranga da economia. Está faltando o Posto Ipiranga da política. É preciso saber quem efetivamente está falando em nome do governo.

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O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, não está fazendo esse papel? Dizem que anunciaram que é ele, mas ele não tem carta branca para poder resolver as coisas, para o que ele está acertando [com o Congresso] ser garantido. Depende da opinião de outros. É preciso ter essa pessoa até para cobrar a responsabilidade para um eventual sucesso e insucesso.

A presença dos filhos do presidente Jair Bolsonaro no governo tem atrapalhado a articulação? Atrapalha. Ninguém votou em familiar de presidente. Ninguém votou em familiar de deputado. Ninguém votou em familiar de governador. A responsabilidade tem que recair sob o presidente ou a pessoa que ele escolheu. Se ele quiser que algum dos filhos dê publicamente opinião, é só nomear. Não há qualquer impedimento.

 

 

O DEM não informou ainda se vai integrar a base do governo. O senhor acredita que vai? Se eu dissesse que vai ou não vai, pareceria que estamos nos oferecendo. Isso depende de um convite formal do presidente da República. O que, até hoje, não houve. Se o governo faz política de forma diferente, talvez eles queiram levar desta forma, sem ter uma base aliada formal.

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O senhor concorda que a proposta da reforma apresentada pelo governo Bolsonaro é mais dura do que a do governo Temer? Acho que é do tamanho que precisa ser. É claro que algumas coisas precisam ser ajustadas. Alguns pontos que nós divergimos. Eu não vou defender interesse de corporação nenhuma. Tenho mandato para defender os mais pobres. Justiça social se faz no Congresso através de lei. Quem pode mais, paga mais. Quem pode menos, paga menos ou não paga.

Há um clima favorável para aprovação da reforma? Vejo que sim, porque todos os parlamentares sabem da importância da aprovação sob pena de que no curto período, o Brasil entre em uma recessão profunda.

A presença de mudanças envolvendo militares na reforma facilitaria as coisas? Claro. Isso [a proposta da reforma da Previdência dos militares] tem que chegar o mais breve possível. O militar é uma carreira nobre, mas não há motivo para ter qualquer tipo de privilégio. O Brasil não é um país com histórico de guerras para justificar que se tenha um tratamento privilegiado em relação às outras carreiras.

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Acha que a proposta de capitalização passa no Congresso? O problema é que [a proposta no texto] está como princípio, tirando da Constituição e remetendo a lei complementar. Passaria [no Congresso] com um quórum muito baixo. Só que, se a gente votar isso, vai dar uma oportunidade ao governo de promover a mudança de regime para capitalização sem estabelecer as regras. Não sei se o Congresso está disposto a dar esse cheque em branco.

O senhor manteria o deputado Arthur Maia, que relatou a reforma da Previdência no governo Temer, na mesma função? O Arthur é um quadro de altíssima qualidade. Pela dedicação que teve na reforma passada, talvez, seja o quadro mais preparado sobre este assunto. Ele vai dar uma contribuição muito grande pela experiência que teve de dialogar com todos os setores e segmentos sendo ou não sendo relator. Aí é uma decisão do governo.

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