O cantor Zezé di Camargo tinha apenas dois anos de idade quando foi consumado o golpe militar de 1964. Tinha seis quando o Ato Institucional n° 5 inaugurou a ditadura escancarada. Era um adolescente engatinhando na carreira artística quando a linha dura das Forças Armadas transformou as prisões em catacumbas infestadas de torturadores fardados e civis. Conheceu o sucesso com músicas que não incomodavam a censura e virou celebridade depois de restaurada a democracia.
Sem jamais ter visto a face selvagem do autoritarismo, Zezé di Camargo avisou nesta segunda-feira, numa entrevista a Leda Nagle, que lê muito, que se considera bastante informado sobre o que vai pelo país e que sabe reconhecer ditaduras de longe, seja qual for o sotaque. A Venezuela é uma delas, exemplificou. “Outra foi a Hungria do Ceasescu”, confundiu-se o analista, instalando o ditador da Romênia no comando da nação dos húngaros.
No fecho da aula, caprichando na pose professoral, Zezé ensinou que, durante a Era dos Generais, o que se viu por aqui foi não uma ditadura, mas o que batizou de “militarismo vigiado”. Dispensou-se de explicar quem vigiou e quem foi vigiado. Mas a coisa funcionou tão bem que valeria a pena reprisar a experiência, agora para derrotar a conjunção de crises que aflige o Brasil. Depois de resolvidos todos os problemas, o paraíso tropical seria devolvido aos paisanos. Como prometiam fazer os vitoriosos de 1964.
O palavrório do ídolo idiota só serviu para confirmar que podem conviver no mesmo corpo, em perfeita harmonia, um bom cantor sertanejo e uma besta quadrada em assuntos políticos.