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Valentina de Botas: O céu imoral

Também respeitava Cunha e quase lhe tinha gratidão, como toda a nação farta do império dos pervertidos, até saber que o deputado era um deles

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h19 - Publicado em 10 jul 2016, 10h54

Se Eduardo Cunha prestou valioso serviço ao país – e ele prestou um valioso serviço ao país –, isso não o absolve de nenhum dos crimes que cometeu e ajudou a cometer contra esse mesmo país. Da mesma forma, se Cunha acatou o pedido de impeachment por vingança – e ele acatou o pedido de impeachment por vingança –, isso não absolve Dilma Rousseff de nenhum dos crimes que cometeu e ajudou a cometer sempre contra esse mesmo país. Sim, o ex-presidente da Câmara contribuiu para nos livrarmos da parva gerenta de névoas espertalhona genitora de um regime sórdido em que nem o céu imoral era o limite, mas é exatamente essa sordidez o que forneceu os nutrientes de que o gângster precisava para gozar naquele mesmo céu com família, seguidores, capangas e comparsas.

Quando o lulopetismo desfalcou o Brasil do exercício da política para a tornar um exercício de mera pilhagem do nosso futuro, da nossa grana, nossos valores e instituições; quando a oposição oficial degenerou na omissão, cumplicidade ou covardia (e diferencio as três mais por respeito à precisão linguística e menos pelo efeito prático que teve o comportamento criminoso também de quem deveria se opor e não o fez); quando o debate público trocou os projetos e os interesses do país para se ocupar de questões falsas ou inúteis como a polarização extemporânea entre esquerda e direita ou, pior, entre os extremistas de um lado e outro, unindo-se no mesmo lado da estupidez, eis que Eduardo Cunha, empossado presidente da Câmara, desponta como político no sentido substantivo do termo.

O homem fazia política, esgrima os legítimos e lícitos instrumentos dela com inteligência e firmeza, opunha-se ao PT deixando os governistas zonzos, furiosos e desesperados. A partir daí, os incapazes capazes de tudo – na expressão de Roberto Campos que o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) lembrou para definir os lulopetistas – partiram para as manobras mais irracionais em que, pela primeira vez desde 2003, era a política e não a polícia que os encurralava. Foi música para nossos olhos contemplar o despreparo vil do PT para a política, a democracia e a gestão pública, um partido que se manteve no poder porque arrastando a nação para o nível dele de primitivismo enquanto a transformava num boteco de cafajestes que a parva veio sucatear.

Mas, ao mesmo tempo, foi melancólico assistir à nudez da realidade inexplicável de que foi a bandidos que tremiam diante de um homem só que, por mais de uma década, quase todos os políticos, quase toda a academia, quase toda a sociedade se submeteu. Também eu respeitava Cunha e quase lhe tinha gratidão, como toda a nação farta do império dos pervertidos, até saber que o deputado era um deles. Claro que não é o principal, mas o Brasil tem convivido tempo demais com delinquentes no comando da política, talvez isso o tenha levado a um tipo de apego aos que, mesmo delinquentes, beneficiam-no.

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Ressalvo apenas que o benefício é obrigação pela qual foram eleitos, não escolha; a delinquência é escolha, não obrigação. Ah, mas outros nem a obrigação fizeram. E daí? Desapega, Brasil. Dizem que os opostos se atraem, pode ser, mas são as afinidades que mantêm uma união; Cunha e Dilma, unidos pelo ódio, aproximaram-se pelas afinidades delinquentes e as incompatibilidades compartilhadas na disputa pelo poder livraram o país de ambos.

Eu seria grata a Eduardo Cunha se as inegáveis inteligência e têmpera para a política não perdessem para o mau-caratismo. Além disso, ele é que deveria ser grato à nação que propiciou a desejada vingança pessoal que era, sobretudo, direito pleno dela. Se o deputado quer saborear mais do que o delicioso prato frio, que faça uma delação premiada e conceda à nação, às custas da qual ele gozou num céu imoral, algo mais do que ela tem como legítimo direito.

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