VALENTINA DE BOTAS
Os fatos, sempre eles; J. R. Guzzo, sempre ele. Parafraseando o grande texto, se alguém quiser impedir que alguma tarefa útil para o país seja executada, basta recorrer a qualquer ministério dos 39 à disposição do lulopetismo. Pois à disposição do país é que não estão. Mas, sim, o Ministério da Cultura. O que é, para que serve e o que faz um ministério da cultura? Aliás, o que é cultura? É uma coisa que eu digo assim “vamos ali fazer cultura?”, ou seja, é ato de vontade e consciente?
O artigo maravilhoso de Guzzo é cultura, como as novelas, Monteiro Lobato, as mulatas do Di Cavalcanti, as saborosas legendas nas internações do Sanatório Geral desta coluna, os desenhos do Zéfiro, as rendas das rendeiras nordestinas, Waldick Soriano, Bibi Ferreira, as bachianas de Villa-Lobos, a catira do interior de São Paulo, a tapioca e tal. E tudo isso aflorou ora sem um ministério ora apesar de um. Sem falar do lado negro da força cultural manifestado na corrupção e na tal cordialidade (patrimonialismo, populismo, fisiologismo, paternalismo, personalismo) do brasileiro diagnosticada por Sergio Buarque de Holanda.
Tivemos um PAC na década de 1960, Programa de Aceleração Cultural que originou o DAC (Departamento de Assuntos Culturais) dirigido por Manuel Diegues Jr., sim, o pai do Cacá, até culminar no Minc. Então, por mais de 400 anos houve produção e fruição cultural no Brasil mais ou menos como nos Estados Unidos cuja fabulosa cultura ubíqua jamais contou com a ação inútil da burocracia, de favores e entraves estatais. Sob o lulopetismo, o Minc se erige, nas palavras definitivas de Guzzo, neste supremo tribunal árbitro do gosto, solvente das consciências não apenas pelo policitamente correto, já de si detestável, mas do modo mais eficaz de esvaziar a cultura: pela miserável panfletagem.
Coisa nenhuma deveria subjugar o artista que não sua arte; como o cidadão, numa democracia, só deve estar submetido à própria consciência. O tribunal também não gosta da cultura, da democracia ou do gosto burgueses. Gosta é do dinheiro dos burgueses que, saindo do bolso deles, passa não sei que purificação nos escaninhos viciados do Minc para, imaculado agora, entrar no bolso do artista alinhado que, então, artista já não é. Enquanto isso, Fernando Haddad, o prefeito que o paulistano elegeu contra si, adora pensar que está modernizando São Paulo e cita Amsterdã e Nova York como exemplos de cidades com ciclofaixa.
Brande que 80% dos paulistanos são a favor da panaceia-fetiche do pior prefeito da história da cidade – qualquer cidade. Não devem estar mais tão favoráveis sabendo que pagamos seis vezes do que qualquer outro cidadão moderno. Modernidade para Haddad é fazer a ciclofaixa mais cara do mundo e a menos utilizada enquanto a cidade continua suja, com ruas esburacadas, calçadas que refletem vergonhoso déficit de cidadania e pichada com a cara do Chávez, o arauto do neoatraso latino-americano.
Ah, o cidadão queria pintar um negro. Entendo. Na São Paulo privatizada por Haddad que faz dela o parque temático da incompetência já tornada fetiche, onde uma ciclofaixa integra o primitivismo, Chávez é culturalmente mais negro do que, por exemplo, um Joaquim Barbosa.