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Augusto Nunes

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Uma pergunta espera há 11 anos a resposta de Requião: quem come mamona é maluco ou fica maluco quem come mamona?

Concebido pelo senador Roberto Requião e sancionado nesta quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff, o projeto que regulamenta o direito de resposta tem a carranca do pai e o jeitão destrambelhado da mãe. Em vez de simplesmente garantir a correção de notícias equivocadas, o desmentido de acusações sem fundamento e a punição de jornalistas que incorrem […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 00h06 - Publicado em 13 nov 2015, 18h32
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    Concebido pelo senador Roberto Requião e sancionado nesta quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff, o projeto que regulamenta o direito de resposta tem a carranca do pai e o jeitão destrambelhado da mãe. Em vez de simplesmente garantir a correção de notícias equivocadas, o desmentido de acusações sem fundamento e a punição de jornalistas que incorrem em delitos arrolados no Código Penal, o texto que virou lei tem tudo para transformar-se num instrumento de intimidação da imprensa independente.

    Como informou a coluna de Ricardo Setti em 14 de março de 2012, o senador do PMDB paranaense sempre sonhou com projetos que amordaçam a imprensa. Nesta semana, ele conseguiu ao menos restringir a liberdade de expressão com as regras sobre o direito de resposta, que poderá ser invocado se o conteúdo do material publicado atentar, “ainda que por equívoco de informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação”.

    O palavrório confirma que o filhote de Requião nasceu para confundir, não para explicar. E a subjetividade dos conceitos amplia a zona de sombra em que qualquer interpretação é permitida. Tome-se como exemplo o vídeo que eternizou o papelão protagonizado pelo então governador do Paraná em fevereiro de 2006, quando apareceu no Planalto para outro beija-mão em louvor do presidente Lula. O anfitrião estava eufórico com o desempenho do Brasil no mundo maravilhoso dos biocombustíveis. O visitante estava eufórico com o tratamento amistoso que lhe dispensava o ex-inimigo.

    Confira a cena inverossímil extraída do Jornal da Globo. Lula estende a Requião um vidro cujo conteúdo tem coloração suspeita. “É mamona”, previne. Requião enfia a mão no vidro, captura um punhado de sementes, enfia a coisa na boca e começa a mastigar. “Isso é mamona, pô!”, espanta-se o presidente, que ri do gourmet de grotão. “É bom”, balbucia o governador desgovernado. “Você sabe que isso tem uma toxina que não pode comer?”, alerta Lula de novo. Só então a ficha cai: assustado, Requião dá as costas para a câmera e cospe no chão o biocombustível do futuro.

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    Mais revelador que uma biografia de 900 páginas, o vídeo induz a quatro conclusões nada lisonjeiras. Quem assiste à peça histórica só pode achar que o senador é:

    a. sabujo
    b. otário
    c. doidão
    d. idiota
    e. tudo isso e mais um pouco.

    Seja qual for a opção, o vídeo atenta contra a marca, o nome e a imagem de Requião. Com a entrada em vigor da lei que pariu, ele pode reivindicar espaços em todos os meios de comunicação que divulgarem a chanchada em miniatura. É o caso desta coluna. Para poupá-lo de recorrer à Justiça, o censor aprendiz está convidado a enviar sua versão do episódio. Os leitores aguardam ansiosamente a resposta à pergunta que não quer calar: quem come mamona sempre foi maluco ou ficou maluco por comer mamona?

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