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Augusto Nunes

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Ter sido presidente da República não é atenuante. É agravante

Os defensores de Temer ficaram tão felizes que nem notaram que o desembargador que o libertou também é um caso de polícia

Por Augusto Nunes Atualizado em 26 mar 2019, 18h23 - Publicado em 26 mar 2019, 18h23
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  • Enquanto as cadeias do Brasil foram reservadas exclusivamente a originários do universo dos três pês ─ pobres, pretos e putas ─, a imensa maioria dos jornalistas ignorou a diferença entre prisão preventiva e prisão provisória, ou o significado da expressão “condução coercitiva”. Acusados sem nenhuma chance de acesso a advogados que cobram honorários em dólares por minuto eram ─ como ainda são ─ amontoados na traseira do camburão sob o olhar indiferente dos guardiães do devido processo legal espalhados pelos meios de comunicação.

    As coisas mudaram desde que a Lava Jato começou a enriquecer a população carcerária com a anexação de mais dois pês: políticos e presidentes ─ de empresas ou da República. Só então as cadeias viraram “masmorras medievais” e as prisões consumadas pela Polícia Federal se tornaram “espetaculosas”, como berraram os especialistas em tudo no minuto seguinte à prisão preventiva de Michel Temer.

    O colunista José Simão fez um perfeito resumo da ópera: quando a futura primeira dama Marcela nasceu, o maridão Michel já tratava o Código Penal a socos e pontapés. Até os cascos dos navios sabem que, desde o século passado, a cada grama descarregada no porto de Santos Temer e seus comparsas ficam um pouco mais ricos. Agora se sabe que o bando também agiu em outras fontes de maracutaias, até em usinas nucleares. Mas alguns garantistas da imprensa acham que bandidos que ocuparam o gabinete presidencial, sobretudo os que enfeitam mentiras com mesóclises, devem ser tratados com muito respeito.

    Ter sido presidente da República não é atenuante, muito menos justificativa para tratamento especialíssimo. É agravante. Em liberdade, Temer e sua turma continuarão a dedicar-se em tempo integral à obstrução da Justiça e à ocultação de provas ─ como, por exemplo, os dois celulares que o coronel Lima tentou esconder sob o sofá. Com a libertação do ex-presidente, os defensores de Temer ficaram tão felizes que nem notaram que o desembargador que o libertou também é um caso de polícia.

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