REYNALDO ROCHA
“Perdeu playboy!! Tá tudo dominado!”
O grito de guerra que os traficantes do Rio de Janeiro tornaram famoso é o sentimento maior da vergonha e da certeza de nossa impotência.
A certeza da vitória. Deles. Da nossa perda. De quem se torna incapaz quando uma arma é apontada para as nossas cabeças. A explicitação da truculência. Quando o domínio se faz claro, exaltando a extensão do mesmo. Tudo. E tudo é a certeza do limite ultrapassado.
E somos hoje, “playboys” que perdemos tudo.
E não mais por meros traficantes. De drogas.
O tráfico mais rentável é de influência. O sequestro mais elaborado é o da consciência. O roubo de maior lucro é do dinheiro público. O crime organizado especializou-se: é mais danoso que a venda de crack; é mais aceito que a prostituição; é exaltado por vítimas que sequer entendem que são vítimas.
O que tem de especial ─ como empresário e profissional ─ o sr. Fábio Luiz Lula da Silva?
Absolutamente nada. Criou uma empresa (a primeira que teve. E única.) – Gamecorp – que se notabiliza por nunca ter dado um centavo de lucro. Desde sempre, acumula prejuízos. Mais um empresário que estaria fora do mercado por apostar em uma ideia ruim e mal implementada.
Mas é um empresário de sucesso.
O que tem de especial o sr. Fábio Luiz Lula da Silva? Já aqui não como profissional ou empresário. Sabe-se que nunca foi.
É filho de Lula. E isto faz toda a diferença. “Tá tudo dominado!”
Lulinha ─ o filho comparado por Lula a Ronaldo Fenômeno ─ criou a Gamecorp e conseguiu um aporte de R$ 5.000.000,00 da Telemar. Nas coincidências deste Brasil da Era da Mediocridade e da Corrupção, após este aporte o Governo federal autorizou a fusão (aquisição) da Brasil Telecom com a Telemar. Até então proibida, em nome de uma desejada competição entre operadoras.
Mera coincidência. Mas muito aparente.
Instada pela imprensa (a mesma que precisa de um controle social, que a cada dia se revela mais necessário, pelo lulopetismo), foi instaurada investigação pela Polícia Federal. Como envolvia o BNDES (sócio da TELEMAR) e este sendo um banco público, acionou-se o Ministério Público.
Nenhum depoimento foi tomado por ambos.
As providências? Correspondências aos envolvidos com a singela pergunta: “Quando do aporte da Telemar para a Gamecorp, sabia esta empresa (Telemar e BNDES) que o proprietário era filho do presidente Lula?”
“Perdemos, playboys!”
A resposta óbvia: jamais! O interesse em tal aporte era decorrente de “mercado”. Embora a Gamecorp tivesse menos de UM ano de existência, NENHUM produto e ser absolutamente desconhecida.
Inquérito arquivado. A OI Telemar continua sendo O ÚNICO cliente da Gamecorp. Que demorou quatro anos para responder a um pedido de informações do Ministério Público. Quando dado, foi considerado suficiente.
Este é, sem retoques e necessidade de novas poses ou cenários, o retrato do Brasil de hoje.
O mesmo que acusa São Paulo de ter uma política de Segurança Pública desastrosa, embora tenha reduzido em mais de 68% o número de homicídios em dez anos, quando neste período ─ como exemplo ─ a Bahia tenha experimentado um incremento de 368% neste mesmo crime (dados oficiais do Ministério da Justiça).
O Brasil que um chefe de quadrilha ousa acusar o julgador de ditador e “imperial”. E exige que o Poder Judiciário seja leniente com o roubo escancarado.
Um país onde um “projeto de poder criminoso” é apontado pelo presidente de um poder independente e o terceiro na linha de sucessão do Executivo, sem que cause maiores repercussões. Afinal, o partido que patrocinou este “golpe” (Ayres Brito) ainda está no poder.
Perdemos mais uma. Pena. Os que irão aplaudir esta vitória de Pirro não entendem que eles TAMBÉM perderam. Mesmo que o lulopetismo almeje fazer de seus seguidores os novos filhos de Lula. Como o pai da pátria desmoralizada.
“Tá tudo dominado!”. Ainda não.
Mas podemos dizer ao Lulinha, ao menos desta vez: “Ganhou, playboy!”
E já é um elogio. Merecido.