A legislação eleitoral brasileira, talvez a mais imbecil do planeta, ordena que as emissoras convidem para os debates entre candidatos à Presidência da República todos os inscritos por partidos que tenham um mínimo de cinco parlamentares no Congresso. Ou se convida a turma toda — do grupo de elite aos que cambaleiam na zona do rebaixamento — ou não tem jogo.
Nos países civilizados, emissoras de TV promovem duelos entre os líderes das pesquisas eleitorais e, eventualmente, estendem o convite a concorrentes que julgam merecedores da atenção dos votantes. O objetivo é mostrar aos espectadores como são e o que pensam os candidatos que podem assumir a chefia do governo. No Brasil, só se houver segundo turno é possível exibir um confronto entre dois debatedores.
No primeiro turno, um Cabo Daciolo tem de estar presente para que o evento comece — a menos que a figura que transformou a Bíblia em programa de governo resolva rezar em lugar incerto e não sabido. Foi o que fez neste domingo, para não comparecer ao evento organizado em parceria pela TV Gazeta, pelo Estadão e pela Jovem Pan.
Se pensassem nos eleitores, os candidatos estariam exigindo, em conjunto, a revogação dessas regras estúpidas. Em vez disso, trataram de acrescentar às restrições legais mais camisas de força e acabaram inventando o debate sem debate. Foi o clube dos assessores especializados em debate sem debate, por exemplo, que limitou tais eventos a duas horas a duração de encontros do gênero. É também coisa desse clube a resposta de um minuto e meio, ou a réplica de trinta segundos, ou a supressão do direito de réplica quando quem pergunta é um jornalista.
Por que os presidenciáveis rejeitam debates de verdade? Por que não reivindicam mais tempo para a exposição de ideias, propostas e planos (em linguagem inteligível, de preferência)? Talvez porque todos prefiram contar mentiras e desfiar fantasias sem se arriscarem a contestações incômodas. Talvez porque desconfiem que nada do que têm a dizer precisa de mais que 90 segundos.