Um dia antes da eleição deste 7 de outubro, Dilma Rousseff liderava com folga a disputa pelo Senado em Minas Gerais. Com 28% dos votos válidos no Ibope e 26% no Datafolha, a ex-presidente assistiria de camarote à briga pela segunda vaga. Na noite de domingo, descobriu que as urnas haviam discordado das sumidades da estatística: com apenas 15%, Dilma acabou rebaixada para um humilhante quarto lugar.
No mesmo dia 7, Wilson Witzel acordou convencido de que teria de cuidar da vida no dia seguinte. Candidato ao governo do Rio, soube na véspera que alcançara apenas 12% no Ibope, 20 pontos percentuais abaixo do líder Eduardo Paes. Terminada a apuração, Witzel pousou no segundo turno a bordo de 42% dos votos, 30 pontos percentuais acima do que haviam profetizado no sábado os magos das intenções de voto.
Como explicar o descompasso abissal entre os levantamentos eleitorais e o mundo real? “Pesquisa é um retrato do momento”, recitaram os dirigentes dos dois principais institutos. (Alguém aí acredita que, se a eleição tivesse ocorrido no sábado, Dilma seria a vitoriosa e Witzel permaneceria na zona de rebaixamento?). Também avisaram que brasileiro gosta de mudar de ideia minutos antes de votar. (Se é assim, por que abrir em julho a temporada de pesquisas?)
Na grande imagem de Nelson Rodrigues, os magos do Ibope e do Datafolha deveriam sentar-se no meio-fio e chorar lágrimas de esguicho. Como são incapazes de reconhecer mesmo erros monumentais e pedir desculpas ao distinto público, estão todos prontos para recomeçar a procissão de porcentagens sem parentesco com a realidade.
Enquanto existirem clientes dispostos a pagar por ilusões e gente que enxerga a verdade revelada nessas selvas de algarismos, pesquisas de intenção de voto serão um excelente negócio. Nada mais que isso. O resto é conversa fiada.