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O que nossos nomes dizem de nós?

Mudanças recentes mostram outro viés das causas do rebaixamento do Brasil nas avaliações internacionais

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 6 Maio 2018, 11h25 - Publicado em 6 Maio 2018, 11h25
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    Outrora os nomes foram de santos, anjos, profetas, figuras históricas ou mitológicas, personagens memoráveis e deuses, sem excluir os pagãos.

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    Mas no crachá do garçom que ora nos serve está escrito Uélinton. O frentista do posto onde abastecemos o carro atende por Valdisnei. A manicure que me atendeu há pouco chama-se Génifer. Os porteiros do prédio de onde saímos trabalham em dupla e se chamam Uóxinton e Uésley.

    A mudança de nomes mostra outro viés das causas do rebaixamento do Brasil nas avaliações internacionais. Provavelmente os pais de Uélinton não quiseram homenagear o Duque de Wellington, que venceu Napoleão na famosa batalha de Waterloo.

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    Nem Wellington Moreira Franco, que se tornou governador do Rio ao derrotar Darcy Ribeiro em 1986 e atualmente é o ministro de Minas e Energia.

    Os dois candidatos ao governo do Rio em 1986, antes ou depois das eleições, podem ter influenciado algumas famílias a homenageá-los nos nomes dos rebentos, mas no caso de Uéliton talvez não tenha sido o caso.

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    Eles eram conhecidos de modo diferente: Darcy Ribeiro, pelo prenome; e Wellington Moreira Franco, pelo sobrenome, ou por Gato Angorá, o apelido que lhe dera o governador Leonel Brizola, craque em dar apelidos a desafetos.

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    Lula, por exemplo, mesmo quando apoiado por ele no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, era identificado por Sapo Barbudo. Ou então por Lorde Inglês, depois que o publicitário Duda Mendonça determinou que Lula vestisse terno azul e gravata vermelha.

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    Quanto aos pais de Valdisnei, eles a seu modo homenagearam a Walter Elias Disney, o Walt Disney, apelido pelo qual é mais conhecido. Suas histórias em quadrinhos e desenhos animados tornaram famosos em todo o mundo personagens como o Pato Donald, o rato Mickey, o cachorro Pluto e tantos outros, velhos conhecidos dos pais de Valdisnei. Mas é curioso que se tenham lembrado do autor!

    Os pais de Génifer procederam como o editor de Ideas de Géca Tatu, que deixou furioso o escritor Monteiro Lobato, uma vez que o empresário descuidou das únicas coisas que o autor não revisara: a capa e o título. Ele escrevera Idéias de Jeca Tatu. Na ortografia da época, “idéias” tinha acento.

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    A menina Génifer não pôde contar com quem se preocupasse em descobrir qual das celebridades chamadas Jennifer inspirara seus pais a dar um nome feminino de grafia tão esdrúxula. Dependendo da idade que têm as meninas chamadas Génifer, Jénifer ou Jennyffer, seus pais pensaram em atrizes de seriados ou filmes como Jennifer Lopez, Jennifer Aniston ou Jennifer Hewitt, a bobona que foge de um psicopata no filme Eu sei o que vocês fizeram no verão passado.

    Num rápido levantamento, nota-se que personagens literários e históricos cederam lugar a nomes de celebridades da televisão, do esporte, do cinema ou bíblicos. Foram ouvidos ou vistos pelos jovens pais dos bebês, não lidos! O analfabetismo autodidata já chegou à segunda geração.

    Há apenas três décadas, se os pais não lessem, os filhos liam ou vice-versa. De todo modo, quem não lia não se orgulhava de sua ignorância, antes a lamentava.

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    Se os pais quisessem homenagear o primeiro homem a viajar pelo espaço sideral, não chamariam o filho de Hyury. Iam procurar velhos jornais ou revistas para ver como se escrevia corretamente o nome do cosmonauta. Ou talvez consultassem os filhos mais velhos e já instruídos, “para não passar vergonha”.

    Poderiam, quem sabe, errar o nome de personagens literários ou históricos, mas tinham por norma simplificar, no que eram ajudados por diligentes oficiais de cartório.

    Este tempo já é passado. Antes de grafia simples, porque escritos em português, a língua oficial e, mais que isso, preferida e hegemônica no País, os nomes passaram a ter consoantes dobradas a torto e a direito. E surgiram nomes esdrúxulos nos registros de nascimento, decorrentes do velho hábito de escolher o complicado em vez do simples. Não o complexo, mas o complicado!

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    Todavia também neste viés as coisas começam a mudar para melhor. No levantamento mais recente, feito em dezembro de 2017 pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), os nomes  masculinos aparecem liderados por Miguel, Arthur, Heitor, Davi e Gabriel. Entre os nomes femininos, Alice, Valentina, Helena, Laura e Sofia ocupam os primeiros lugares.

    Estão lendo mais estes pais? Provavelmente a causa seja outra: os roteiristas de novelas e seriados mudaram os nomes dos personagens.

    *Deonísio da Silva
    Diretor do Instituto da Palavra & Professor
    Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
    https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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