Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

O ministro do Supremo convidado para a festa de casamento de um advogado em Capri jura que nem é amigo do noivo

Especializado em proclamar a inocência de gente cujo prontuário implora por uma temporada na cadeia, o advogado criminalista Roberto Podval aparece frequentemente no noticiário dos jornais. No momento, por exemplo, cumpre-lhe garantir que o casal Nardoni não matou a menina Isabella, que Marcelo Sereno se limitou a prestar serviços à pátria quando foi o  braço […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 11h18 - Publicado em 24 jul 2011, 14h43

Especializado em proclamar a inocência de gente cujo prontuário implora por uma temporada na cadeia, o advogado criminalista Roberto Podval aparece frequentemente no noticiário dos jornais. No momento, por exemplo, cumpre-lhe garantir que o casal Nardoni não matou a menina Isabella, que Marcelo Sereno se limitou a prestar serviços à pátria quando foi o  braço direito de José Dirceu na Casa Civil, que Denise Abreu só pensou nas vítimas dos acidentes e nos flagelados dos aeroportos enquanto agiu na Anac ou que Sérgio Gomes da Silva, vulgo Sombra, nada teve a ver com o assassinato do prefeito Celso Daniel.

Para tirar uma folga da seção de polícia, Podval, 45 anos, resolveu fazer uma escala nas colunas sociais a bordo de um casamento de cinema. Como a noiva tem ascendência italiana, decidiu que o cenário do evento, marcado para 21 de junho, seria o spa na Ilha de Capri que abriga o restaurante L’Ollivo (duas estrelas no Guia Michelin). Assegurada a boa mesa, tratou de acentuar o clima romântico com um show do cantor Peppino di Capri, presença obrigatória nas paradas de sucesso dos anos 60. O noivo avisou aos 200 convidados que todos teriam direito a dois dias de hospedagem gratuita no Capri Palace Hotel ,um cinco estrelas cujos apartamentos foram ornamentados com champanhe, frutas e brindes. Também colocou a disposição dos viajantes uma equipe de cabeleireiros e maquiadores importados do Brasil.

Conversa fiada

Nada falhou, orgulhou-se em seu blog a empresa contratada para organizar a festa de arromba: “O casamento foi um evento de proporções épicas. Organizamos a chegada dos convidados, auxiliamos nos trâmites de reserva e no deslocamento na Itália via trem ou ferrys, check-in e diversos detalhes para que se sentissem em casa”. A celebração se estendeu até o começo da manhã do dia 22. Exatamente um mês depois da festança, a Folha de S. Paulo devolveu o criminalista às páginas de sempre ao informar que o ministro José Antonio Dias Toffoli ─ que participou do julgamento de dois casos envolvendo clientes de Podval e, no momento, é relator de outros dois ─ comparecera à festança. Não viu nada de errado na viagem a Capri?, quis saber o jornal nesta quinta-feira.

“A viagem foi de caráter estritamente particular”, mandou dizer o ministro pela assessoria de imprensa. Se quisesse, poderia comprovar que arcou com os gastos da viagem e que nem tem intimidade com o criminalista. Mas, segundo a assessoria, “ele se reserva o direito de não fazer qualquer comentário sobre seus compromissos privados”. Conversa fiada, retrucam normas legais e imperativos éticos. Primeiro, Toffoli deve  provar que não usou dinheiro público na compra das passagens aéreas nem ficou hospedado num hotel por conta do noivo. Se fez isso, convém ressarcir a União e o advogado ─ e declarar-se impedido de participar de qualquer julgamento em que Podval esteja interessado. É muito amigo para julgar com isenção. Se bancou com o próprio dinheiro uma viagem à Itália só para festejar um casamento, é mais amigo ainda.

Continua após a publicidade

“Os casos de suspeição previstos em lei são referentes apenas a relação de amizade íntima ou inimizade capital entre o magistrado e a parte e jamais em relação ao advogado”, intrometeu-se Gabriel Wedy, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil. Interessada em justificar casos semelhantes protagonizados por dirigentes da entidade, o doutor Gabriel Wedy acabou por juntar-se involuntariamente ao coro dos que exigem que Toffoli fique fora do julgamento do caso do mensalão.

Antes de vestir a toga presenteada por Lula, o ministro foi advogado do PT e chefe da Advocacia-Geral da União. No primeiro emprego, ajudou a preservar o direito de ir e vir dos delinquentes companheiros. No segundo, aprendeu com o mestre a recitar que a roubalheira imensa não aconteceu. Caso insista em julgar os mensaleiros no STF, Toffoli será mais que um juiz suspeito. Será um ministro decidido a absolver os culpados.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.