Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O desimperialismo ianque

Para os que sempre desejaram um menor peso relativo dos EUA no mundo, a contemporaneidade com Trump traz boas notícias

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h25 - Publicado em 23 jun 2018, 23h31
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Marcos Troyjo

    Qualquer perfeito idiota latino-americano — do Malecón em Havana às assembleias sandinistas em Manágua, de uma fila por remédios em Caracas aos centros acadêmicos de universidades brasileiras — aprendeu a soltar o grito “abaixo o imperialismo ianque”. Bem, tais idiotas contam agora com um poderoso aliado: o presidente dos EUA, Donald Trump.

    Disseminado em fins do século 19 como resultado da Guerra Hispano-Americana, o imperialismo ianque, entendido originalmente como vocação territorial expansionista dos EUA, ganhou contorno mais sofisticado com o fim da Segunda Guerra Mundial. Washington dela emergiu como superpotência política, econômica e militar. Além da expansão, o imperialismo passaria a significar também influência.

    Os EUA, ao contrário do que aconteceu após sua participação na Primeira Guerra Mundial, não poderiam mais, a contar de 1945, voltar para casa. Churchill, como vimos nesta coluna, recomendava aos EUA assumirem em definitivo a liderança dos valores e interesses ocidentais.

    Continua após a publicidade

    George Kennan, diplomata norte-americano lotado na Embaixada dos EUA em Moscou nos anos quarenta, complementou e sofisticou a visão churchilliana de projeção global dos valores e interesses dos EUA e, por conseguinte, do Ocidente. Kennan foi autor do famoso Longo Telegrama que enviou ao Departamento de Estado em 1946.

    Seu conteúdo também remetido à revista Foreign Affairs. Assinado com o pseudônimo X e intitulado “As fontes da conduta soviética”, o texto se tornou um manual do usuário para a política externa imperialista dos EUA durante a Guerra Fria.

    Segundo Kennan, a vulnerabilidade básica do território russo era um convite ao expansionismo. Para os czares vermelhos da União Soviética ou para Pedro, o Grande, o ataque seria sempre a melhor defesa. A URSS estaria vocacionada à exportação da Revolução Russa de outubro de 1917.

    Continua após a publicidade

    Não o internacionalismo proletário preconizado por Trótski, mas uma projeção externa baseada na própria busca de espaços vitais. Caberia aos EUA assim envelopar a URSS, construindo em torno dela um cordão sanitário. Nascia a doutrina da contenção em que os interesses e valores do Ocidente (liderado pelos EUA) deveriam ser defendidos em escala planetária.

    Emerge deste cenário portanto uma nova e mais elaborada forma de imperialismo ianque — que se exerceria por acordos militares regionais como a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o Tiar (Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca) e o status de parceiro estratégico de defesa junto a países como o Japão e a Coreia do Sul. Formam-se também um banco de socorro de liquidez (o FMI) e uma agência de fomento (o Banco Mundial).

    Nesse renovado imperialismo norte-americano, os EUA combateriam as esquerdas em qualquer lugar do mundo (por vezes incentivando ou associando-se a regimes nada democráticos, como no Irã do xá ou regimes militares na América Latina). Incentivariam também a cooperação regional baseada em valores ocidentais como livre mercado, propriedade privada e estado de direito, cujo principal exemplo é a dinâmica no Velho Continente que levou ao estabelecimento da União Europeia.

    Continua após a publicidade

    É dizer, seja no campo político-militar, no econômico-comercial ou na esfera dos valores, a visão de mundo e a política externa dos EUA — de Truman a Obama — foi de expansão dos princípios ocidentais e o que isso arquitetou em termos de instituições e alianças.

    Ora, todas essas frentes — no âmbito do poder, da prosperidade e do prestígio — estão sendo abandonadas por Donald Trump. Se a Rússia há um tempo reclamava da hipertrofia da Otan, Trump sustenta que a aliança é cara e ineficiente. Se Washington da Trumponomics favorece o curto prazo dos EUA em detrimento de seus próprios interesses de crescimento ao longo do tempo e com isso arremessam a economia global em incertezas, então o FMI deve ser criticado.

    Acordos econômicos, como Nafta ou a Parceria Transpacífico, deixam de responder a lógicas geoeconômicas mais amplas. Passam a ser simplesmente o resultado do frio cálculo contábil das balanças comerciais artificialmente administradas país a país.

    Continua após a publicidade

    Na mesma linha, Trump enfraquece a ONU e a OMC por, respectivamente, sair da Comissão dos Direitos Humanos ou denunciar o mecanismo de soluções de controvérsias.

    Mais que isso, mina as bases do próprio multilateralismo que representava um das formas indiretas e sutis do sistema pós-guerra criado pelo imperialismo dos EUA. Na mesma linha, deixa de ver na União Europeia uma entidade cuja existência e fortalecimento se coaduna com os interesses geopolíticos dos EUA.

    E, no que toca à América Latina, a melhor palavra para descrever a atitude dos EUA para a região é indiferença. México e Cuba são mais questões de politica interna dos EUA — por conta do problema da imigração e da configuração de forças na Flórida — do que reais tópicos de política externa. Em vez da vigilância ou ingerência imperialista, apenas um desinteresse blasé.

    Continua após a publicidade

    A soma disso tudo é que os EUA estão menos influentes — e buscam menos influência no mundo. A Washington de Trump está decretando o fim do “excepcionalismo norte-americano” e de sua — ao menos pretensa — ambição de ser uma superpotência benigna.

    Os EUA estão atuando como qualquer outro país — são apenas “mais um”, e menos desejos de construir uma ordem internacional a partir de seus valores. Entendem-se num mundo de balança de poder, num “jogo de soma zero”. Trata-se do isolamento por opção.

    Para os que sempre desejaram um menor peso relativo dos EUA no mundo, a contemporaneidade com Trump traz boas notícias. Encontra-se em movimento um verdadeiro desimperialismo ianque.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.