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Marcos Troyjo: O novo nacional-militarismo dos EUA

Quem votou num candidato nacionalista e protecionista ficou com a certeza de que "recebeu o que comprou"

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 21h01 - Publicado em 4 mar 2017, 23h44
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  • O primeiro discurso de Trump a uma sessão conjunta do Congresso norte-americano mostra que os EUA estão iniciando uma nova fase de nacional-militarismo. Foram inúmeras as críticas ao conceito de cadeias globais de produção. Trump jactou-se da decisão de empresas como Ford, General Motors e Carrier, tomada desde a eleição que o conduziu à Casa Branca, de não transferir ao exterior certas áreas de seu processo produtivo. Trump reprisou também um de seus bordões de campanha “queremos comércio livre, mas justo” (“we want free, but fair trade”).

    Ao mencionar casos em que as motocicletas Harley-Davidson são taxadas em mais de 100% como item de importação em alguns países, o presidente alertou que não permitirá que outros países “tirem vantagem” dos EUA. Chamou o TPP (Parceria Transpacífico) de “assassina de postos de trabalho”. Indicou que todos óleo ou gasodutos implantados nos EUA serão construídos com “aço americano”. Salientou que a classe média americana “encolheu” pois “assistiu seus empregos e riquezas serem exportados para outros países”.

    Na superfície, quem assistiu o discurso fica com a impressão de que os EUA são vítimas, e não um dos principais beneficiários da globalização. Quem votou num candidato nacionalista e protecionista ficou com a certeza de que “recebeu o que comprou”. O pronunciamento vai de mãos dadas com o anúncio da última segunda-feira (27), de que os EUA voltarão a inflar seu orçamento militar. Trump proporá ao Congresso um aumento de dispêndio nas forças armadas de US$ 54 bilhões.

    Tal movimentação traz ao menos duas implicações importantes que confirmam a inauguração de uma nova era nacional-militarista. Primeira: a história é repleta de exemplos – os mais dramáticos encontrados nos anos 1930 – em que nacionalismo é prenúncio de militarismo. Tal equação é particularmente preocupante na conjuntura de uma China em ascensão, que deveria ser desencorajada, ela própria, a uma escalada militar. Segunda: quando reclamam de “comércio injusto”, de que supostamente são exemplos os subsídios que países como a China oferece a seu setor manufatureiro, os conselheiros de Trump fazem vista grossa ao fato de que os EUA têm em seu orçamento militar o maior programa de política industrial do mundo.

    Um aumento de 10% (percentual proposto por Trump) em gastos de defesa é algo que vai além dos efeitos multiplicadores da fabricação de tanques, caças e mísseis. No limite, como nos EUA os principais contemplados com as verbas de defesa são empresas privadas que respondem a projetos especiais (de que são exemplos históricos a Internet, a telefonia celular ou drones), tal prática é limítrofe com a deslealdade competitiva.

    Desde a presidência Reagan, quando os EUA consolidaram seu modelo de “complexo industrial-militar”, ano após ano cerca de 15% dos gastos com defesa vão para fomento de inovação – projetos de pesquisa & desenvolvimento. O grande economista John Kenneth Galbraith chamava esse processo de “keynesianismo militar”. E tal dinâmica gera uma série de desequilíbrios no objetivo de harmonizar condições internacionais de competitividade. Ainda que possa suscitar benefícios pontuais de curto prazo, o novo período de nacional-militarismo que Washington põe em vigor contribuirá menos para grandeza dos EUA, e mais para seu isolamento.

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