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Augusto Nunes

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Especial VEJA: Leonel Brizola ─ cunhado é serpente

Publicado na edição impressa de VEJA “A essas acusações de comunista, subversivo, de agitador inconformado, de incapaz de convivência democrática, a esses agravos e até insultos, eu respondo com a minha indiferença”, esbravejou Leonel Brizola em 30 de maio de 1963, durante uma sessão de ânimos exaltados na Câmara dos Deputados. Brizola podia ser qualquer […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h06 - Publicado em 6 abr 2014, 08h51
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  • Publicado na edição impressa de VEJA

    leonelbrizola

    “A essas acusações de comunista, subversivo, de agitador inconformado, de incapaz de convivência democrática, a esses agravos e até insultos, eu respondo com a minha indiferença”, esbravejou Leonel Brizola em 30 de maio de 1963, durante uma sessão de ânimos exaltados na Câmara dos Deputados. Brizola podia ser qualquer coisa, menos indiferente. E todos podiam sentir tudo em relação a ele, menos indiferença. Incluindo seu cunhado, João Goulart, de quem foi salvador e algoz ao mesmo tempo.

    Nacionalista no sentido pervertido da palavra ─ todos os que não concordassem com ele eram vendilhões da pátria ─ e populista em sua acepção mais organicamente arrebatadora ─ ele falava, a massa exultava e ia atrás, mesmo que para o abismo ─, Brizola tinha o carisma que faltava a Jango, mas a mesma capacidade de fazer avaliações erradas. Tinha também 270.000 votos, um número espantoso para um ex-governador gaúcho eleito deputado pelo Estado da Guanabara. “Não era fácil ao presidente governar com um Brizola a tiracolo, mas lhe era muito difícil libertar-se dele, numa conjuntura que, todos os dias, apresentava novos contornos, novas dificuldades e novos imponderáveis”, avaliou pouco depois do golpe o ex-ministro da Justiça de Jango, Abelardo Jurema.

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    >Palavras serenas assim, talvez só as dele mesmo. Menos política, Maria Thereza Goulart, que havia se casado com um vestido feito pela cunhada Neusa, irmã de Jango, disse depois que Brizola “naquela época tocou um pouco de fogo no circo”. Tanto, e com tanto ardor, que mesmo os comandantes militares partidários da tática de espera ─ empurrar a crise até a eleição presidencial de 1965 ─ se convenceram de que não dava: com Jango ou sem Jango, Brizola planejava um golpe institucional que levaria, na sua concepção, à instauração de uma república sindicalista.

    “Você viu o discurso do Brizola? Ele quer fechar o Congresso”, disse o general Castello Branco em telefonema ao companheiro de farda Arthur da Costa e Silva, depois do comício de 13 de março em que o explosivo cunhado presidencial defendeu uma Assembleia Constituinte composta só daqueles que passassem por seu crivo: trabalhadores, camponeses, sargentos e oficiais nacionalistas. Como governador do Rio Grande do Sul, Brizola havia liderado a Campanha da Legalidade, em 1961, que garantiu a posse do vice Jango, e a defesa do plebiscito, em 1963, que devolveu ao cunhado os poderes do presidencialismo.

    Não à toa, ele se sentia um pouco, ou talvez até muito, dono da Presidência, à qual planejava ascender por meio da campanha por uma mudança constitucional que lhe permitisse ser candidato, sob o slogan “cunhado não é parente”. A dicotomia entre o introvertido filho de estancieiro rico, que multiplicou a fortuna paterna investindo com acuidade no negócio do boi gordo, e o refulgente político de infância tão miserável que chegou a viver de favor num sótão apertado, como um Harry Potter dos pampas, explodia no jornal brizolista O Panfleto, praticamente todo dedicado a criticar a “política de conciliação com minorias e grupos conservadores” de Jango.

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    No início de 1964, Brizola ameaçou privar o governo do apoio da Frente de Mobilização Popular, guarda-chuva de todas as esquerdas. No comício da Central, Jango, numa leve deferência ao cunhado, disse que não é com rosários que se combatem as reformas, numa referência a um episódio ocorrido semanas antes em Belo Horizonte em que senhoras de terço na mão e manifestantes inflamados haviam impedido Brizola de fazer um comício. Ele escapou do tumulto a pé e, numa rua mais adiante, sequestrou um carro apontando um revólver para a cabeça do motorista. Não houve arma, discurso ou carisma que impedissem o golpe que ele acompanhou de Porto Alegre, tentando organizar uma resistência que nunca viria.

    Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.

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