Discurseira sobre terceiro mandato confirma: Lula só pensa naquilo
Um dos raros interlocutores do presidente da República que não é tentado a ajoelhar-se quando o encontra adverte: esqueçam a versão segundo a qual Lula não cobiça o terceiro mandato consecutivo. Segundo o integrante do primeiríssimo escalão do governo, ele ouve com o sorriso dos docemente constrangidos os companheiros que defendem na presença do chefe […]
Um dos raros interlocutores do presidente da República que não é tentado a ajoelhar-se quando o encontra adverte: esqueçam a versão segundo a qual Lula não cobiça o terceiro mandato consecutivo. Segundo o integrante do primeiríssimo escalão do governo, ele ouve com o sorriso dos docemente constrangidos os companheiros que defendem na presença do chefe o estupro da Constituição.
Começou assim o texto publicado em 20 de março ─ e prontamente desmentido pela turma que não consegue ver a mão estendida de Lula sem beijá-la e pedir-lhe a bênção. O presidente já disse que não quer, fingiram crispar-se alguns. Coisa de gente interessada em grudar no chefe o estigma de estuprador da Constituição, irritaram-se muitos. Mas Lula não deixa um colunista na mão, confirmou na quarta-feira o falatório na Guatemala.
“Não se brinca com a democracia”, caprichou na cara de bravo quando um jornalista evocou o tema da segunda reeleição. “Se isso for feito democraticamente, ainda é assimilável”, começou a mudar de rota já com cara de contente. “Porque é muito engraçado que as críticas que fazem aos presidentes da América Latina que querem um terceiro mandato não se fazem aos primeiros-ministros na Europa que ficam 16 ou 18 anos”, escancarou a alma o governante, fingindo ignorar as diferenças entre o regime presidencialista e o parlamentarista.
Agora tentando dissimular a euforia, Lula mencionou as manobras em curso na Venezuela e na Colômbia, destinadas a permitir a permanência no poder de Hugo Chávez e Alvaro Uribe. “Não vejo nisso nenhum mal”, seguiu em frente. “Alguém que quer o terceiro mandato pode querer o quarto, pode querer o quinto, pode querer o sexto”, confundiu o delirante ziguezague, que acabou sobrando para a imprensa. A culpa é dos jornalistas que insistem em manter no noticiário uma falsa questão, descobriu. “A mídia fortalecerá muito mais a democracia quando ela se contentar em informar os fatos, e não criar os fatos”.
O presidente da República é que fortaleceria o regime democrático se informasse à companheirada que é hora de parar com a campanha queremista. Fortaleceria mais ainda se parasse de juntar na mesma discurseira desmentidos inconvincentes e frases que revelam o que tenta inultilmente esconder: se puder, ficará no poder para sempre.