Heraldo Palmeira
Tudo corria bem, até que, ao final de uma semana intensa de trabalho, fui desligar o computador e apareceu uma mensagem convidando a atualizar o sistema operacional e oferecendo duas opções: reiniciar ou desligar ao final.
Bastou um clique para ter início uma desarrumação digital, a quarta nos últimos dois anos. Computador travado, a maldita “tela azul”, não restou alternativa além de chamar um amigo técnico e formatar a máquina mais uma vez.
Desta vez, senti não o estresse costumeiro das outras vezes; apenas um desânimo analógico, uma falta de vontade de reorganizar tudo (configurar a máquina), instalar programas, aplicativos e retomar a rotina de dependência desse mundo plugado, opressor, implacável, incompreensível para a maioria de nós, simples usuários que queremos apenas continuar fazendo nossas coisas comuns.
Mesmo usando somente produtos originais, tive ainda um monte de contratempos creditados à incompatibilidade entre sistema, programas e aplicativos. O antivírus de última geração não estava nem um pouco interessado em conversar com o ambiente do meu banco e também andou atrapalhando meu acesso a alguns sites de notícias.
Os dicionários só voltaram a me fazer companhia porque abri mão da versão mais recente do sistema operacional, em favor de uma versão mais velha e mais confiável, que mantive guardada na estante. Era para uma emergência, virou definitiva.
Cheguei a ligar para as editoras dos nossos dois dicionários mais importantes e vi que não havia solução, que as pessoas que me atenderam nunca abriram seus próprios livros.
A dança de arquivos entre HDs é sempre mais lenta do que deveria, e desanimadora pela estupidez do processo. Fico me perguntando como, até aqui, ninguém conseguiu uma solução simples e rápida para essas situações.
Pensei nos tempos rudimentares da informática, quando máquinas e programas eram bem mais simples, não passavam de ferramentas de apoio. Hoje, nós somos as ferramentas cobaias de apoio desse mundo cada vez mais cheio de inutilidades obrigatórias, que saltam na tela deixando a nítida impressão de que têm vida própria.
Confesso – e não tenho como negar – minha enorme saudade das velhas Remington, Olivetti, Facit, Royal, Olympia…, cujos problemas eram simples de resolver. Quase sempre, trocar a fita ou limpar com álcool os caracteres. Vez ou outra, levar a uma oficina para o mecânico limpar e lubrificar as engrenagens. Voltavam com o som engraxado e macio, a digitação leve com tudo parecendo encaixado.
Algumas tiveram versão elétrica, que era um luxo. Até que chegamos ao superluxo das IBM, com direito a corretor. Primeiro, as de esfera. E no último estágio antes dos computadores, as de margarida.
Todas elas, manuais ou elétricas, umas fofas dóceis que não tinham nenhum interesse em nos tirar do sério, como esses bestas desses computadores sem personalidade, que planejam dominar o mundo e até invadir a área do pensamento com sua inteligência artificial.
Já dizia o mestre João Ubaldo Ribeiro, “O que eu faço com o computador? Porque isso é uma máquina de fazer maluco!”. Ponto final!