Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Confidências do presidente João Figueiredo numa noite das arábias

Capítulo 1 DUAS FRASES E CINCO PALAVRAS ─ Bom dia, presidente ─ começou minha primeira conversa com um chefe de governo brasileiro. ─ Bom dia ─ encerrou-a João Figueiredo, último dos cinco generais-presidentes do regime militar. Duas frases, cinco palavras e uma vírgula não autorizam ninguém a achar que houve um diálogo, muito menos uma conversa. Aquilo não passou […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 17h34 - Publicado em 27 Maio 2009, 00h48
Victor Civita,Figueiredo e o colunista no prédio da Abril na Marginal do Tietê

Victor Civita, João Figueiredo e o colunista

Capítulo 1

DUAS FRASES E CINCO PALAVRAS

Continua após a publicidade

─ Bom dia, presidente ─ começou minha primeira conversa com um chefe de governo brasileiro.

─ Bom dia ─ encerrou-a João Figueiredo, último dos cinco generais-presidentes do regime militar.

Duas frases, cinco palavras e uma vírgula não autorizam ninguém a achar que houve um diálogo, muito menos uma conversa. Aquilo não passou de uma banalíssima troca de cumprimentos. Não tive tempo de dizer como me chamava e o que fazia, nem de perguntar-lhe se estava bem. Mas eu não precisava contar lá em casa que a coisa foi tão indigente. Diria apenas que tinha conversado com o presidente, só isso, e não estaria mentindo. Resolvida a questão doméstica, fiquei olhando o homem baixo e atarracado, suando sob o terno e a gravata que oficiais da cavalaria jamais aprenderão a combinar, que avançava escoltado por meia dúzia de seguranças pelo atalho aberto na pequena multidão reunida para recepcioná-lo no 7° andar do prédio da Editora Abril na Marginal do Tietê.

Continua após a publicidade

Um dia ainda pego esse cara de jeito, consolei-me. Peguei mesmo, mas só sete anos mais tarde, quando Figueiredo já era ex-presidente e tinha tempo de sobra até para conversar horas a fio com um jornalista que nem conhecia. Naquele começo de tarde em que dialogamos por cinco segundos, eu não poderia adivinhar que viajaria a seu lado numa noite das arábias. Tratei de convencer-me de que não fora uma desconsideração. No lugar dele eu faria o mesmo, teria preferido a roda que juntou o fundador da Abril, Victor Civita, o editor Roberto Civita, o diretor de redação de Veja, José Roberto Guzzo, o diretor-adjunto Elio Gaspari, o governador Paulo Maluf e mais duas ou três figuras da primeira divisão. Editor de Política joga na segundona.

Ainda bem que nenhum deles vai estar no Guarujá amanhã, confortei-me em completo silêncio, planejando os preparativos para o encontro com o ex-presidente Jânio Quadros no dia seguinte. Que maio, aquele. Um presidente e um ex- em 48 horas. Se não houve tempo para uma conversa que merecesse tal nome no dia 27, a do dia 28 duraria uma tarde inteira. De passagem, iria mostrar ao velho Jânio como é que se bebe.

Pelo menos a conversa posso ouvir, decidi com a cabeça de volta ao prédio da Abril. Pedi a Pedro Martinelli que me fotografasse ao lado de Figueiredo, minha mãe iria ficar orgulhosa. Abri caminho na selva de braços, dorsos, cabeças, pernas e consegui estacionar a um metro do presidente. Pedrão fez a foto. Só uma, a que ilustra esta narrativa. E que seria usada contra mim, como ocorreria com a imagem transformada por Jânio no golpe de misericórdia que encerrou o duelo desigual. A foto do dia 28 viraria prova de que só eu bebi. A do dia 27 me deixou com cara de papagaio de pirata.

Continua após a publicidade

Não ouvi grande coisa, ninguém faz revelações espetaculares numa roda. Mas fiz dois ou três registros que poderiam ser úteis. Figueiredo fumava mais que marido traído de filme francês e era tão tenso quanto espião argentino. Quando o tema do momento aguçava o permanente desconforto, a perna esquerda balançava como um pêndulo que perdeu a compostura. E parecia insatisfeito com o emprego. Estava mesmo, confirmaria sete anos depois. Não guardo lembranças do  almoço, nem lembro a que distância fiquei da mesa principal. Achei que nunca mais toparia com Figueiredo depois da entrevista ao jornalista Alexandre Garcia em que, com o governo no fim, pediu ao país que o esquecesse. Parecia sincero. Mas algo o levou a suspender o pedido em 12 de março de 1987, uma quinta-feira. Começou a falar às 8 da noite. Só parou às duas da madrugada.

Quando o falatório terminou, descobri que poucas vezes tivera tanta sorte naquela virada para uma sexta-feira 13.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.