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Augusto Nunes

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Como acabar com as seitas selvagens que se disfarçam de ‘torcidas organizadas’

PUBLICADO EM 11 DE MARÇO Enquanto amigos corintianos como Ricardo Setti e J. R. Guzzo escreviam por mim sobre o assassinato do menino boliviano Kevin Espada, aguardei a volta ao palco de alguma ramificação palmeirense para entrar no debate em torno das seitas selvagens que se disfarçam de “torcidas organizadas”. A espera não seria longa: […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h45 - Publicado em 27 dez 2013, 09h05
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    PUBLICADO EM 11 DE MARÇO

    Enquanto amigos corintianos como Ricardo Setti e J. R. Guzzo escreviam por mim sobre o assassinato do menino boliviano Kevin Espada, aguardei a volta ao palco de alguma ramificação palmeirense para entrar no debate em torno das seitas selvagens que se disfarçam de “torcidas organizadas”. A espera não seria longa: bandos do gênero raramente passam mais de uma semana sem engordar o prontuário. Na quinta-feira passada, a previsão foi confirmada pelo ataque aos jogadores Valdivia e Fernando Prass, surpreendidos por milicianos da Mancha Verde num aeroporto em Buenos Aires.

    Sobrou aos dois atletas a sorte que faltou ao garoto de 14 fulminado em Oruro pelo sinalizador naval disparado por artilheiros da Gaviões Fiel (que, desta vez, arquivaram ódios recíprocos para agir em parceria com combatentes da Pavilhão 9). Em Buenos Aires, havia por perto dois ou três seguranças do clube, os agressores não eram tantos e,  aparentemente, nenhum dispunha de armas letais. Valdivia, o alvo principal, conseguiu esconder-se no banheiro. O goleiro Prass não conseguiu desviar-se da xícara que lhe custou um corte na orelha e três pontos na cabeça.

    Pouco importa se na Bolívia houve um morto e na Argentina, apenas um ferido. Poderia ter sido o contrário, porque a única diferença entre os pastores da violência está na divindade que veneram ─ e, por consequência, nas cores do que chamam de “manto sagrado”. Somadas a centenas, milhares de episódios semelhantes, a tragédia consumada em Oruro e a apenas esboçada em Buenos Aires berram que os estádios estão dominados por multidões de delinquentes patrocinados e protegidos pela direção dos grandes clubes.

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    Não há mais espaço para torcedores normais. Só para quem imagina que torcer por um time é muito mais que uma opção esportiva: é razão de viver e meio de vida. Os palmeirentes da Mancha Verde e os corintianos da Gaviões da Fiel, por exemplo, ou estão gritando nos estádios, ou preparando bandeiras e vistoriando o arsenal para a próxima batalha, ou ensaiando para o Carnaval ou desfilando no Sambódromo. Como as viagens internacionais podem consumir vários dias, nem pensam em trabalho. Caso resolvessem suar a camisa fora do campo, seriam demitidos por abandono de emprego na primeira semana.

    “Queremos que a torcida identifique esses marginais, expulse os envolvidos e os entregue para a polícia”, disse o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre. Ex-integrante da Inferno Verde, diluída há anos na mistura que resultou na Mancha Verde, ele pareceu espantado com o que saiu do ovo da serpente. E prometeu fazer o que deveriam ter feito seus antecessores nos últimos 30 anos. “Enquanto isso não acontecer, eles não terão nenhuma regalia”. Mais que uma ameaça, é uma confissão: Nobre está confirmando que os bandos organizados não existiriam sem o patrocínio da cartolagem.

    Não é difícil matar o monstro: sem ingressos gratuitos, sem verbas e ônibus para viagens, sem ajudas de custo para os chefes das “torcidas organizadas”, todas morrerão de raquitismo. Enquanto agonizam, que a polícia investigue e prenda, que o Ministério Público enquadre e que a Justiça condene. Simples assim. O problema é que o primeiro passo para o fim das organizações criminosas depende dos dirigentes. E todos, por ação ou omissão, são cúmplices da bandidagem.

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