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Celso Arnaldo: O Estadão descobriu o dilmês

CELSO ARNALDO ARAÚJO Entrou para o folclore da grande imprensa brasileira a patética pretensão de um solene editorialista de O Estado de S. Paulo dos anos 60 que, depois de tentar ensinar o Padre Nosso ao vigário — no caso, o Papa Paulo VI — através de seguidos editoriais criticando determinada posição do Vaticano, assim […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h25 - Publicado em 21 abr 2013, 19h41

CELSO ARNALDO ARAÚJO

Entrou para o folclore da grande imprensa brasileira a patética pretensão de um solene editorialista de O Estado de S. Paulo dos anos 60 que, depois de tentar ensinar o Padre Nosso ao vigário — no caso, o Papa Paulo VI — através de seguidos editoriais criticando determinada posição do Vaticano, assim começa um texto aplaudindo tomada de posição do Sumo Pontífice que coincidia com a mudança de rumos defendida pelo jornal: “Conforme alertáramos Sua Santidade…”

Diante do editorial deste domingo no Estadão intitulado “Dilmês castiço”, é o caso de dizer: “Conforme alertáramos…”. Não tenhamos a pretensão de imaginar que o grande periódico dos Mesquita andou bebendo na coluna de Augusto Nunes – embora cite, entre os desastres linguísticos que justificam o editorial, ipsis literis, dois sanatórios localizados, enquadrados e aqui internados esta semana. Mas esse editorial, na verdade, poderia ter sido escrito por qualquer ser pensante que se dispusesse a ouvir atentamente um improviso de Dilma sobre virtualmente qualquer assunto – nos últimos três anos, esta coluna facilitou as coisas para eventuais interessados, divulgando e arquivando pelo menos duas mil amostras do trôpego dialeto falado por uma única pessoa na face da Terra. Conforme alertáramos….

De qualquer forma, modéstia à parte, mas às favas, a edição de O Estado de S. Paulo deste domingo é histórica também para esta coluna — enfim, ali se revela uma Dilma que, embora constrangedoramente exposta quase todos os dias diante de um microfone, ainda era tão clandestina quanto a Estela dos anos de chumbo: a Dilma cuja real capacidade de presidir o país é gravemente questionada sempre que ela abre a boca. O editorial do Estadão, que usa como título um neologismo criado neste espaço e que ainda era um jargão só usado por nossos leitores e comentaristas, é a tardia, mas muito bem-vinda, chancela da grande mídia à descoberta pioneira da coluna de Augusto Nunes: já dura três anos, somando-se o período de campanha, não interrompidos por uma única, solitária frase de três palavras com algum sentido ou lampejo, a mais explícita demonstração pública de despreparo de um chefe de estado na história deste país. Despreparo incomum até em pessoas comuns.

Da saudação à despedida, qualquer agrupamento de palavras pinçado do palavrório sem forma e conteúdo de Dilma, seja diante de ex-miseráveis do Bolsa Família ou de governadores e pesos-pesados do empresariado, impediria qualquer pessoa de exercer um cargo de quinto escalão num governo sério, se houvesse no processo de seleção alguma meritocracia. Numa empresa de porte médio, um candidato a emprego que falasse como Dilma não resistiria 30 segundos de pé na sala do RH.

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O mais importante: em “Dilmês castiço”, o editorialista do Estadão não apenas destaca a “dificuldade que a presidente Dilma Rousseff tem de concatenar ideias, vírgulas e concordâncias quando discursa de improviso” como vincula essa miséria vernacular – outra posição antiga e solitária da coluna – à própria incapacidade de governar, haja vista seu grotesco ato falho sobre a “conquista” da inflação: “Se a presidente não consegue se expressar com um mínimo de clareza em relação a um assunto tão importante, se ela é capaz de cometer deslizes tão primários, se ela quer dizer algo expressando seu exato oposto, como esperar que tenha capacidade para conduzir o governo de modo a debelar a escalada dos preços e a fazer o País voltar a crescer? Se o distinto público não consegue entender o que Dilma fala, como acreditar que seus muitos ministros consigam?”.

Aqui, um singelo reparo ao questionamento do jornal: ao citar o Ministério de Dilma como uma espécie de “referência nobre” para esse dilema, o editorial gasta boa vela com péssimo defunto. Dilma não tem um Ministério, mas um minestrone estragado – uma sopa de letras supostamente partidárias que ali se amalgamam para operar no fundo do prato. Nenhum ministro reclama clareza nas ordens de Dilma. Nenhum questiona a lógica infantil das 6 mil creches, a viabilidade completamente aérea dos 800 aeroportos, a sandice expressa do Trem-Bala. Nada sairá como ela ordenou – e não importa a forma como ordenou.

E também não adianta especular se Dilma só fala tão mal em público e seria cristalina na zona de conforto dos gabinetes, seu habitat natural. Se fosse o caso, por que a caríssima Secretaria de Comunicação Social da Presidência ainda não lhe arrumou um midia trainer decente? Será porque a quase doutora que diz ser voraz consumidora de livros e de artes múltiplas nunca assimilou nada do que podia ter aprendido nas escolas que frequentou, nas reuniões que comandou, nos seminários a que assistiu? Estamos lidando com um fenômeno?

Ou você conhece mais alguém que diria isto?

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“A Rede Cegonha é um tratamento da mãe antes do parto, durante a gravidez, no parto e depois no pós-parto, o tratamento da mãe e da criança. Em todas as fases, a gente olha duas pessoas que são essenciais para a saúde do povo brasileiro: a mãe a criança”.

Alguma chance de a Rede Cegonha decolar?

Mas, ministros e cegonhas à parte, o simples reconhecimento do Estadão de que há algo profundamente errado numa presidente incapaz de iniciar, concatenar ou terminar um raciocínio ao se expressar sobre virtualmente qualquer tema, sinalizando provavelmente um erro de pessoa, pode ser o começo de um novo nível de percepção da opinião pública em relação ao governo Dilma,cuja sintaxe é representada por obras que não começam, não terminam ou se desfazem no meio.

Como os pensamentos em dilmês castiço.

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