Aldo Rebelo escapou por pouco de Salomé, lamentei no comentário de 1 minuto para o site de VEJA. Se Chico Anysio não tivesse morrido nesta sexta-feira, a gaúcha de Passo Fundo que usava o telefone para dizer verdades a quem estivesse na Presidência da República já teria conversado com Dilma Rousseff sobre o mais recente monumento ao ridículo erguido pelo ministro do Esporte: a Teoria do Atraso. Segundo o autor, brasileiro gosta tanto de atraso quanto de futebol ou de carnaval. É por isso que as obras ligadas à Copa do Mundo não vão ficar prontas no prazo combinado. É por isso que as promessas feitas à Fifa não foram ainda cumpridas.
“Nós também temos nossos problemas civilizatórios”, caprichou o ministro. “Um deles é o atraso. A gente atrasa até para sair de casa para o cinema, para o restaurante. Então, isso é uma coisa da nossa cultura. Mas tudo funciona”. Depois de lembrar que “até reunião ministerial atrasa”, Rebelo comparou o maior evento futebolístico do mundo a uma noitada na Sapucaí. “Quem acompanha a preparação de um desfile de escola de samba acha que aquilo não vai sair, mas todo ano acontece e é um evento de referência”, discursou. “O brasileiro tem um jeito próprio de organizar e sempre entrega o que precisa”.
Conversa fiada, deveriam ter berrado em coro os jornalistas que testemunharam o elogio da irresponsabilidade, da inépcia, do desperdício e da pouca vergonha. Acordos devem ser cumpridos. Quem esquece a palavra empenhada é vigarista. Cronogramas têm de ser respeitados. O “jeitinho brasileiro” é o outro nome da cafajestagem. O que Rebelo qualifica de “coisa da nossa cultura” é apenas um sintoma de primitivismo. Improviso é para craques de futebol . Jogo de cintura fica bem em passistas de escola de samba. Adotados como norma por um governo, tais virtudes apenas encurtam o caminho que leva ao fracasso e ampliam as dimensões do fiasco.
O atraso das obras desmata a trilha no matagal por onde avançam os contratos sem licitação, os preços superfaturados, o programa Propina para Todos, a roubalheira escandalosa. Enquanto os pagadores de impostos bancam a gastança bandida, o ministro do Esporte promove a formas de arte o estelionato, a ladroagem e a fraude. Enquanto o militante do Partido Comunista do Brasil mantém a cabeça estacionada no século 19, o supercartola do Planalto negocia em moeda cunhada no século 21. É compreensível que o comunista-capitalista celebre a beleza do atraso.
O falatório desta semana informa que passou o efeito do merecidíssimo chute no traseiro. Está na hora do segundo. Um bom pontapé nos fundilhos pode tornar Aldo Rebelo tão pontual quanto um lorde inglês.