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A grande crônica de Celso Arnaldo Araújo sobre a noitada festiva da turma de Dilma Rousseff em Portugal

O jantar em Lisboa patrocinado pelo povo brasileiro parece coisa de Woody Allen

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h16 - Publicado em 15 jul 2016, 16h48

Em 29 de janeiro de 2014, o jantar de Dilma Rousseff no restaurante Eleven, em Lisboa, inspirou uma das mais saborosas crônicas do jornalista Celso Arnaldo Araújo. Degustem o texto do autor do ótimo ‘Dilmês, o idioma da mulher sapiens’. E endossem o apelo do colunista: volta logo, Celso Arnaldo.

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CELSO ARNALDO ARAÚJO

O sempre inseguro Fielding Melish leva um fora da namorada, ativista política radical, e decide largar a vidinha em Nova York para se aventurar numa republiqueta do Caribe, apoiando os rebeldes contra o ditador de plantão. É o contexto de Bananas, uma das comédias rasgadas da primeira fase de Woody Allen, lançada em 1971.

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A se acreditar na versão pouco inspirada do ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, Bananas teve uma de suas cenas mais hilárias reproduzida numa das mesas do restaurante Eleven, em Lisboa, sábado passado – presente a própria presidente da República do Brasil, Dilma Rousseff. Que cena é essa?

No filme, o americano Melish é convidado para um jantar no restaurante El Presidente’s, que funciona no próprio palácio do ditador – com direito a fundo musical silencioso a cargo de um quarteto de velhos e tristes músicos tocando instrumentos imaginários. Ao final de um jantar tenso, o garçom sobrevivente – o outro fora envenenado ao provar o prato do ditador — lhe traz a conta. Antes de pagar, Melish checa um por um os itens da despesa com o presidente e seus áulicos.

– Quem comeu o rosbife?

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– Eu.

– E o sanduíche de pastrami com repolho?

– Aqui.

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– Não entendo, há um rosbife a mais.

Esclarecidas as dúvidas, o ditador pergunta ao atônito convidado:

– Tem Diner’s Club? Cartão do Banco da América?

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À moda dos diplomatas — profissionais treinados para fingir que mentem até quando falam a verdade — o chanceler Figueiredo veio a público ontem, provavelmente a mando de Dilma, para afirmar que a conta do jantar no Eleven, um dos mais luxuosos restaurantes portugueses, com suas enormes janelas voltadas para o Tejo e cujo menu vai muito além do clichê do bacalhau, também foi trazida à mesa, como no El Presidente’s.

Só imagine a cena, depois de rever aqui o clip de Bananas. Um dos comensais da comitiva da presidente pega a conta, confere item por item. Confere os presentes – 11 – e, com uma minicalculadora, divide por eles o total da conta.

Presumindo que todos tenham pedido o menu-degustação “Estrela Michelin”, que custa 89 euros por pessoa e inclui, por exemplo, “Porco de raça alentejana, atrás das trufas”, não há cálculos personalizados a fazer. É a mesma quantia para todos os presentes.

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Um funcionário da casa vem então à mesa, com a maquininha, como em Bananas, passar os cartões. Na vez da presidente, ela saca da bolsa seu cartão pessoal, onde se lê Dilma Vana Rousseff, e pronto –fez sua parte, neste governo que não tolera privilégios, não compactua com malfeitos… Mas, espere, da bolsa? Alguém já viu Dilma de bolsa? Como tirar um cartão na bolsa ausente? Não se prenda a esses detalhes: a fábula é de Luiz Figueiredo, não nossa. O fato é que cada um pagou o seu, como naqueles almoços da firma. Ok, ao total do jantar teriam que ser acrescentados os 55 mil dólares de hotel daquela noite – considere isso como um pastel de Belém muito especial.

Mas essa refilmagem brasileira de Bananas teria ainda uma cena final em Cuba. Após a inauguração do Porto de Mariel, a 130 quilômetros de Miami, aberto ao Atlântico e com saída para o Pacífico através do canal do Panamá, obra inteiramente financiada pelo BNDES, houve um banquete no El Comandante´s.

Ao final, alguém trouxe a conta à convidada, nossa versão mais madura de Fielding Manish – o revolucionário que só queria se dar bem: 957 milhões de dólares.

– Tem Diner’s Club?

– Não, Banco do Brasil.

Só uma dúvida:

–Quem pediu a entrada para o Canal do Panamá?

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