Publicado na coluna de Carlos Brickmann
Quando o deputado Winston Churchill foi nomeado primeiro-ministro, sua Inglaterra estava perdendo a guerra contra a Alemanha nazista. Fez um discurso curtíssimo, com quatro promessas: sangue, trabalho, suor e lágrimas. Cumpriu as quatro (e perdeu as primeiras eleições após a vitória na guerra). Mas é cultuado até hoje como herói nacional.
O ex-deputado Michel Temer teve a mesma oportunidade de Churchill. Ao assumir, os cidadãos sabiam que precisaria tomar medidas normalmente impopulares; seus adversários tinham perdido força após sucessivos erros; e ele, com idade avançada, não precisava pensar em reeleição, mas em sua biografia. E que fez Temer com esse cheque em branco? Nomeou Geddel.
Geddel é um político hábil, mas sua história sempre foi controvertida. Antônio Carlos Magalhães o chamou de “agatunado” e divulgou o vídeo “Geddel vai às compras”, em que o acusa de ter comprado 12 fazendas na Bahia e seis apartamentos em Brasília sem ter, legalmente, recursos para isso. Agora foi um colega de Governo, que se demitiu do Ministério acusando Geddel de tê-lo pressionado para liberar a construção de um prédio em que comprou apartamento, em área tombada de Salvador. Usar o prestígio ministerial por um apê? Roberto Jefferson, que denunciou o Mensalão, chamá-lo-ia de “petequeiro”, por disputar migalhas. E Temer perdeu a chance de afastá-lo na hora e mostrar que os tempos mudaram.
…cada vez aumenta mais
Nada como ter prestígio na Corte, nada como ter prestígio com o chefão.
Deputado Jovair Arantes, PTB de Goiás: “Geddel é um excelente ministro, interage muito bem com a Câmara”.
Deputado Rogério Rosso, PSD de Brasília: “Entendo ser um assunto superado”.
Senador Ronaldo Caiado, DEM de Goiás: “(…o ministro Geddel) não poderia ter misturado as coisas. Ele poderia tocar no assunto se não tivesse nenhuma propriedade no prédio. No momento em que você tem propriedade no prédio, isso pode parecer para a opinião pública que você está se valendo do cargo para benefício próprio”. Pois é. Pode parecer.
Fraquezas de memória
Já no fim de seu Governo, conta o ótimo repórter Jorge Moreno, Sérgio Cabral conversava com um deputado que sugeria pequenas mudanças urbanísticas que, a seu ver, causariam efeito positivo em Niterói, como causaram em várias cidades francesas. “Governador, morei dois anos em Paris e vi como as praças…” Cabral o interrompeu: “Paris? Que inveja!” e começou a listar os pontos parisienses de que mais gostava. O deputado puxou conversa, disputando quem conhecia mais pontos interessantes de Paris, até que um terceiro perguntou: “Vamos voltar a Niterói?”
Mas, em seus depoimentos à Polícia Federal, disse que não lembra que joias comprou, ou o valor de suas obras de arte, ou quem paga as despesas de manutenção de sua casa e família. Ele lembrava, por exemplo, que no final de 2010 teve de fazer obras em sua casa e, por isso, passou algum tempo num imóvel emprestado por um amigo. Mas não lembrava quem tinha contratado e pago a obra e a nova mobília. Também não sabia se era verdadeira a informação da vendedora de uma joalheria, de que pagava tudo em dinheiro vivo. A memória de Cabral já não anda tão boa.
Arquivos implacáveis
Dilma Rousseff também tem tido problemas de memória. Garantiu, por exemplo, que Cabral apoiou em 2010 a candidatura de Serra, e em 2014 a de Aécio, ambos do PSDB. Pois não é que já acharam um vídeo de Dilma e Cabral fazendo propaganda juntos? E, dando um Google, acharam também as notícias do apoio de Cabral a Dilma em 2010 e em 2014?
E as leis?
O deputado Carlos Marun, PMDB do Mato Grosso do Sul, é um dos principais membros da bancada que quer rejeitar a proposta de pacote anticorrupção proposto pelo Ministério Público. “Como está, não passa”.
Marun é ligadíssimo ao ex-senador Delcídio do Amaral, que há pouco fez delação premiada para de livrar da cadeia. Acusado de corrupção.
O trensalão, enfim
Nove anos depois de denunciado na Suíça (e republicado nesta coluna), três anos depois de a Siemens informar às autoridades brasileiras que tinha participado de cartéis para fornecer equipamento ao Metrô e a trens urbanos, dois anos depois de a Polícia Federal ter indiciado mais de 30 pessoas por envolvimento no caso, o Ministério Público Federal está preparando as denúncias relativas a São Paulo, envolvendo a companhia do Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Todos os casos se referem a governos do PSDB, que governa o Estado desde 2004. Dos três candidatos tucanos à Presidência, só Aécio não governou São Paulo.