Stonehenge desperta interesse pelos mistérios que a envolve, mas à medida que a ciência desvenda seus segredos, fica claro que a realidade pode ser igualmente fascinante. O mais recente, revelado nesta quarta-feira, 14, aponta que, para construir o monumento, povos neolíticos tiveram que mover uma rocha de seis toneladas por 750 quilômetros, o equivalente ao dobro da distância entre São Paulo e Rio de Janeiro.
O conhecimento até agora já dava conta do esforço despendido por esses povos pré-históricos, já que algumas das rochas já haviam sido identificadas como sendo provenientes de Wales, país do Reino Unido a cerca de 200 quilômetros da Planície de Salisbury, onde Stonehenge foi construído. O achado mais recente, no entanto, aponta que ao menos um dos megalitos foi movido de um trajeto ainda maior, desde a Escócia.
Para os autores do artigo publicado na Nature, o achado muda completamente o que se sabe sobre o monumento e a história neolítica nesta região. “Transportar uma carga tão grande por terra da Escócia para o sul da Inglaterra teria sido extremamente desafiador”, diz Chris Kirkland, pesquisador da Universidade Curtin, na Austrália, e coautor do trabalho. “Isso implica redes de comércio de longa distância e um nível mais alto de organização social do que é amplamente compreendido como tendo existido durante o período Neolítico na Grã-Bretanha.”
Que implicações essa descoberta tem?
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores fizeram um perfil mineral da rocha, que permite saber sua idade e composição química. Esse tipo de análise cria uma impressão digital que permite identificar com grande precisão a origem da rocha.
Muitas interpretações podem ser feitas a partir da descoberta, mas a maioria delas precisa de mais investigações para serem cravadas com certeza. Para os especialistas, duas conclusões são possíveis: a primeira é que, apesar da distância, o monumento era construído e valorizado por uma grande porção do Reino Unidos, e não apenas pelos povos que viviam na região hoje conhecida como Inglaterra; a segunda é que esse povos, provavelmente, tinham uma tecnologia de transporte marítimo mais avançada do que se imaginava até agora.
Sobre esta última, no entanto, ainda não há unanimidade. Em entrevista ao britânico The Guardian, o arqueólogo Mike Pitts, especialista no monumento, disse acreditar que a distância foi percorrida por terra – o que, segundo ele, engajaria mais indivíduos da comunidade e tornaria o monumento ainda mais precioso. Pitts afirma ainda que, apesar do maior tempo despendido, esse transporte não seria especialmente desafiador para as tecnologias disponíveis na época.