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O recém-descoberto papel das mulheres na pré-história

De acordo com especialista, além de cuidar do lar, mulheres também caçavam e criavam formas de arte

Por Sabrina Brito Atualizado em 6 Maio 2022, 21h41 - Publicado em 6 Maio 2022, 12h14

O senso comum costuma retratar mulheres pré-históricas como mães e coletoras, enquanto homens ocupavam a posição de líderes e caçadores. Novas pesquisas, porém, indicam que essa simplificação da pré-história pode estar bem equivocada, e que mulheres tinham papéis muito mais proeminentes nessa época, inclusive como artistas e caçadoras.

VEJA conversou com Sophie Archambault de Beaune, professora da Universidade de Lyon e pesquisadora do laboratório Arqueologia e Ciências da Antiguidade de Nanterre. A especialista afirma que o retrato patriarcal que foi feito da pré-história precisa ser atualizado, dando à mulher seus devidos créditos e importância nesse contexto.

Por que pensamos em mulheres pré-históricas como secundárias aos homens, em termos do papel de cada um na época?

Mulheres pré-históricas foram vistas por muito tempo como passivas, sempre sob proteção de homens, confinadas ao lar para cuidar das crianças. Esses clichês foram gradualmente impostos sobre a opinião pública por meio da literatura e da arte. O tema da pré-história se tornou de interesse de pintores no século XIX, fazendo com que muitos artistas retratassem o sexo feminino como criaturas indefesas e assustadas, sob a guarda de poderosos caçadores. Propagandas, gibis, entre outras mídias perpetuaram essa imagem da mulher na pré-história. Foi só nos anos 1970 que o papel feminino nessa época foi questionado e reformado.

O que gerou esse falso retrato da mulher?

O estudo da pré-história nasceu no século XIX, e, a princípio, os primeiros pesquisadores eram homens que baseavam seus estudos desse período naquilo que eles imaginavam ser a organização social no Paleolítico. Eles fizeram da caça de grandes animais, uma atividade prestigiosa e por eles considerada masculina, uma enorme força por trás da evolução humana. Dessa forma, mulheres eram mencionadas somente como mães e guardiãs do lar. Além disso, as atividades tradicionalmente atribuídas ao sexo feminino, como o trabalho com peles e a coleta de plantas, deixam poucos vestígios arqueológicos. Como resultado, a mulher se tornou gradualmente invisível.

Qual era o real papel do sexo feminino na pré-história?

Estudos recentes mostram que essas mulheres eram muito diferentes da imagem criada a seu respeito. Seu estilo de vida não era sedentário e sua dieta era rica em fibras e proteínas. Consequentemente, elas eram relativamente altas e possuíam uma musculatura poderosa que permitia que elas desempenhassem tarefas tão pesadas quanto as dos homens. As mulheres podiam participar da caça de grandes animais, conforme apontam descobertas arqueológicas realizadas sobretudo no Peru. Elas também certamente participavam da caça de animais pequenos por meio de armadilhas, além de ter um papel importante na exploração de recursos vegetais. Podemos ainda atribuir a elas um número considerável de atividades artesanais, e sabemos ainda que elas frequentavam cavernas decoradas e colocavam as mãos nas paredes. A arte pré-histórica certamente não era exclusiva dos homens.

Qual a importância de entendermos como os grupos humanos funcionavam há tantos milênios?

A relação entre homens e mulheres varia muito entre sociedades, ainda que, atualmente, o sexo masculino esteja, na maioria dos casos, em uma posição de dominância. Porém, não há dados arqueológicos que permita que afirmemos que as coisas funcionavam assim no Paleolítico. Conhecemos diversas sociedades em que mulheres não são submissas aos homens, como os tuaregues ou algumas populações do Sahel. Portanto, esse tipo de descoberta é importante para que entendamos que a dominação masculina não é invariável ou inevitável. O passado tem o poder de elucidar o que sabemos sobre a natureza humana.

Por que saber mais sobre o passado é tão fascinante?

O passado distante sempre fascinou o homem, desde a Antiguidade. Essa busca corresponde à nossa necessidade de compreender de onde viemos, interessando a jovens e a idosos. O fascínio pela pré-história vai inclusive além da arqueologia, e se reflete na literatura, no cinema, nos gibis e até mesmo na publicidade.

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