Para muitos a idade é só um número, certo? Não para uma floresta de álamos tremedores em Utah, nos Estados Unidos. Pando, como é conhecido o bosque de espécies geneticamente iguais, é uma das mais antigas (se não a mais antiga) e duradouras formações vivas conhecidas no planeta. Além da longevidade impressionante, Pando também é considerado o maior ser vivo do mundo.
À primeira vista, ele parece uma floresta comum, com cerca de 47 mil árvores que se erguem em amarelo-ouro. No entanto, essas árvores compartilham uma peculiaridade: são geneticamente idênticas e interligadas por um vasto sistema de raízes subterrâneas, o que as torna, essencialmente, partes do mesmo organismo.
Um dos principais motivos que contribuíram para a longa existência de Pando foi, provavelmente, sua capacidade de reprodução assexuada. Ao invés de depender da troca genética para criar novas gerações, como a maioria das plantas e animais, Pando simplesmente se replica, mantendo suas “árvores-filhas” ligadas a ele enquanto continua a se expandir. Essa habilidade torna possível a sobrevivência em um ambiente onde muitas outras plantas não teriam o mesmo sucesso.
Recentemente, pesquisadores dos Estados Unidos descobriram que a imensa formação pode ter começado como uma única muda há cerca de 34 mil anos, logo após a última era glacial. Uma idade incrível para uma formação viva que continua crescendo e prosperando em pleno século XXI. A título de comparação, a árvore não clonal mais antiga do mundo, um pinheiro bristlecone, nas Montanhas Brancas da Califórnia, tem cerca de 5 mil anos – um bebê vegetal quando comparada a floresta de álamos.
Embora o estudo ainda esteja aguardando revisão científica, suas conclusões ajudam a esclarecer o debate sobre a idade desse colosso, confrontando estimativas anteriores que variam de alguns milhares a mais de um milhão de anos. De acordo com os cientistas, determinar a idade de Pando é como remontar a linha do tempo de um ancestral antigo que continua vivo. A pesquisa também destaca a importância de entender os processos de clonagem e como os clones podem resistir a mudanças ambientais, o que pode ser crucial para a sobrevivência de espécies no atual contexto de mudanças climáticas.
Como os cientistas deram uma certidão de nascimento a Pando
Para entender melhor a antiga floresta, os pesquisadores analisaram cerca de 500 amostras de folhas, raízes e cascas de suas árvores, além de espécimes de outros álamos da mesma região, que não eram ligados a Pando. Com as amostras, os pesquisadores fizeram datações de carbono e sequenciaram o material genético coletado. Ao fim, identificaram cerca de 4 mil variações genéticas, traçando uma espécie de “árvore genealógica” do bosque de álamos. Os dados ajudam a entender como Pando se adaptou ao longo dos séculos e como suas mutações se espalharam ao longo do seu crescimento.
Algumas revelações surgiram. “Seria de se esperar que as árvores que são espacialmente próximas também fossem mais próximas geneticamente”, disse a geneticista Rozenn Pineau, principal autora do estudo, a Nature. “Mas não foi exatamente isso que encontramos. Há uma ligação espacial, mas é muito mais fraca do que esperávamos.”
Apesar de ter resistido por milênios, a longevidade de Pando está ameaçada, Com o aumento das mudanças ambientais e a atividade humana nas proximidades, a floresta pode perder espaço. Por isso, os cientistas buscam aprender o máximo possível sobre como Pando protege seu genoma, para que possam aplicar esses conhecimentos na conservação de outros organismos clonais.