Por décadas, pesquisadores têm se questionado sobre a existência de um objeto astronômico raro e misterioso: os buracos negros de massa intermediária. Agora, uma confirmação. Eles existem e o primeiro a ser descoberto está nas vizinhanças do nosso sistema solar, em um aglomerado de estrelas na Via Láctea – galáxia a qual pertencemos.
A descoberta foi divulgada nesta quarta-feira, 10, na Nature. “Quando vi os dados, soube imediatamente que encontramos algo especial”, disse Holger Baumgardt, pesquisador da Universidade de Queensland e coautor do estudo. “Os astrônomos têm tentado encontrar um destes buracos negros há mais de 20 anos e agora finalmente conseguimos.”
Onde está esse buraco negro?
Os pequisadores descobriram esse buraco negro ao estudar um grande aglomerado de estrelas chamado Omega Centauri. Por muito tempo cientistas debateram se existiria um desses corpos no centro desse aglomerado, mas até hoje não haviam encontrado evidências da sua presença.
Agora, ao investigar duas décadas de dados coletados pelo telescópio Hubble, pesquisadores encontraram sete estrelas que se movem rapidamente em torno de uma única massa. “Procurar estrelas de alta velocidade e documentar seu movimento foi a proverbial busca por uma agulha em um palheiro”, diz Maximilian Häberle, coautor do artigo que investigou as estrelas durante sua pesquisa de doutorado, no Instituto Max Planck.
Ao analisar as sete estrelas, os cientistas conseguiram concluir que a massa em torno da qual as estrelas orbitam teria algo em torno de 8,2 mil vezes a massa do Sol. Além disso, eles conseguiram ver que essa massa não emitia raios-x, o que ajudou a provar que se tratava, de fato, de um buraco negro. “A uma distância de cerca de 18.000 anos-luz, este é o exemplo mais próximo conhecido de um buraco negro massivo”, afirma Häberle.
Por que buracos negros de massa intermediária são tão raros?
Na astronomia, é comum que pesquisadores encontrem buracos negros pequenos, com massas até 150 vezes maiores que a do Sol; ou buracos negros supermassivos, com massas pelo menos 100 mil vezes superiores ao da nossa estrela mais próxima.
Pequenos buracos negros são encontrados em nossa própria galáxia, relativamente próximos, enquanto os supermassivos estão no centro de aglomerados grandes e distantes. Os intermediários, no entanto, estariam no centro de pequenos aglomerados estelares, muito difíceis de serem observados com os instrumentos que temos hoje.
Acredita-se que a Ômega Centauri seria uma galáxia em formação, mas que, em algum momento, foi engolida pela Via Láctea. Assim, ela ficou “congelada no tempo”, nas palavras dos pesquisadores, mantendo intacto esse buraco-negro intermediário.
Agora, mais investigações serão feitas, utilizando o Telescópio Espacial James Webb, que deverá revelar mais sobre a órbita e a posição dessas estreças em relação ao corpo escuro.